O ex-prefeito de São Paulo e deputado federal Paulo Maluf organizou ontem um ato político com direito a fotografia e claque organizada para anunciar o apoio de seu partido, o PP, à pré-candidatura do petista Alexandre Padilha ao governo do Estado. Apesar de embarcar no projeto petista, Maluf vai tentar manter aliados no governo Geraldo Alckmin (PSDB) - ele dispõe de cargos na Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU).
O evento, que foi realizado em um plenário lotado na Assembleia Legislativa, foi uma exigência de Maluf na longa negociação que teve com o PT. O partido tentou evitar o constrangimento, mas acabou cedendo.
Além de ter sido combatido pelos petistas no passado, o aliado está na lista dos nomes mais procurado pela Interpol (Polícia Internacional) sob suspeita de lavagem de dinheiro.
Maluf esperava repetir a cena de 2012, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou-se fotografar ao lado dele no dia do anúncio do apoio do PP à candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura. Dessa vez, porém, Lula não apareceu. Se quiserem, eu com vocês até o Instituto Lula para fazer a foto”, brincou o deputado do PP, que preside a sigla no Estado.
O anúncio ampliou a pressão sobre os tucanos para que selem um acordo com PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. Sem o apoio da sigla, que também negocia com o empresário Paulo Skaf, pré-candidato do PMDB ao governo paulista, Alckmin, que disputará a reeleição, terá 44 segundos a menos de tempo de TV do que Padilha. Graças ao apoio de Maluf, o petista conta hoje com 6min28s, se contabilizados os acordos já firmados, mas ainda não anunciados, contra 5min44s de Alckmin. Com o PSD de Kassab, o governador terá 7min21s de tempo de TV.
Empolgado. Assim que chegaram à Assembleia, Maluf e Padilha, que é ex-ministro da Saúde, ergueram juntos as mãos e o ex-prefeito bradou: “Viva Dilma, Viva Padilha”. Em seu discurso, Maluf escancarou o objeto central da negociação ao dizer que o tempo de TV de Padilha será “maior do que o das Casas Bahia, Petrobrás e Caixa”.
Emidio de Souza, presidente do PT paulista, aproveitou para provocar os tucanos. “Aqueles que até esta madrugada disputavam o apoio do PP serão os primeiros a atacar essa aliança.”
Apesar do anúncio, Maluf se recusou a dizer se o seu partido deixará os cargos que ocupa no governo Alckmin. O partido comanda a Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU) desde maio de 2011.
“Se temos alguns amigos no governo federal, no governo estadual ou na prefeitura é porque são competentes, antes de serem do PP”, disse Maluf. Repetida a questão se, a partir do momento de campanha, o PP manteria suas posições dentro do governo Alckmin, apesar de apoiar o candidato petista, Maluf chamou de “coincidência feliz” o PP ter quadros em diversos governos. “São competentes e são do PP, é uma coincidência feliz. Segundo Jesse Ribeiro, secretário-geral do PP em São Paulo, o partido não tomará a iniciativa de deixar os cargos na CDHU. “Quando (o governador) quiser os cargos de volta, ele que solicite”, afirmou o dirigente.
Depois do evento de ontem, os tucanos passaram a cobrar de Alckmin a exoneração dos pepistas. “Não é sensato eles ficarem no cargo”, afirmou o deputado Duarte Nogueira, presidente do PSDB-SP. Segundo um membro do primeiro escalão do Palácio dos Bandeirantes, a saída dos representantes do PP do governo acontecerá em breve, mas “com calma, elegância e um certo tempo”. Pelos cálculos do governo Alckmin, o PP ocupa pelo menos quatro cargos-chave na administração estadual.
Constrangimento. Padilha disse ontem estar superado o constrangimento em relação à aliança com o PP de Maluf. Em relação à polêmica foto de apoio a Haddad na campanha pela Prefeitura, há dois anos, Padilha disse que “são situações diferentes”. / COLABOROU ANA FERNANDES