Mais do que um lugar no 'Anexo'

Para atrair Aécio, Serra terá de tratar ex-governador mineiro como uma espécie de partido

PUBLICIDADE

Por Análise: Luiz Alberto Weber
Atualização:

A topografia do poder em Brasília revela bastante sobre a real importância do vice-presidente na dinâmica política. Com ministérios e palácios erguendo-se na paisagem do cerrado, o local de despacho do vice é um prédio escavado ao lado do Planalto, abaixo do nível da rua, conhecido pelo singelo nome de "Anexo".

 

PUBLICIDADE

Outro sintoma do poder figurativo do vice, que não dispõe de uma caneta capaz de "escrever" o Diário Oficial, é dado pela crônica dos loteamentos de cargos na Esplanada e estatais. Registra-se, com frequência, o protagonismo de senadores-padrinhos, ministros-padrinhos, governadores-padrinhos... Raros, são, no entanto, os reconhecidos como indicados do vice-presidente.

 

Política, mesmo a boa política, não se faz sem lastro. É preciso comandar um naco do Estado ? nomeações, dotações orçamentárias, assinaturas de convênios e contratos ? para se ter influência e futuro eleitoral.

 

Para atrair o ex-governador mineiro para a chapa, Serra terá de tratar Aécio Neves como uma espécie de partido (ao lado do DEM, PPS e PTB), oferecendo-lhe status de "coligado", com direito a espalhar seu comando por parte da geografia da Esplanada. Sociedade nos louros da vitória, seguida de um período de recolhimento no "Anexo", interrompido pela missão constitucional de preencher a cadeira presidencial nas viagens ao exterior do titular, não é uma oferta sedutora.

 

Tanto que o PSDB, na corte a Aécio, fez chegar ao ex-governador, na linguagem sibilina das negociações de bastidor, a proposta que ele comandaria (diretamente ou mediante procurador nomeado) um ministério importante no governo Serra.

 

A oferta pode não ser o bastante para Aécio, que possui legítimas ambições de poder e apetite de PMDB. Nessa hipótese, fazer o sucessor em Minas, somado ao mandato de senador com habilidades negociadoras, traduz-se num fator real de poder maior do que um lugar no "Anexo".

 

Luiz Alberto Weber é jornalista do Estado

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.