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Maioria dos abusos contra crianças acontece dentro de casa

Por Agencia Estado
Atualização:

Pesquisa feita com crianças e adolescentes vítimas de violência sexual atendidas no hospital infantil da UFRJ mostrou que 97,2% foram molestados dentro de casa, por parentes ou amigos da família. O estudo revelou ainda que os médicos que prestam o primeiro atendimento são mal preparados. Eles não notificam o Conselho Tutelar, como manda a lei, nem recebem treinamento específico para lidar com esse tipo de caso. Foram pesquisados 129 prontuários do Ambulatório da Família que funciona no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ, um dos primeiros centros do País voltados para atender jovens que sofreram violência. Os números mostraram que 30,6% foram molestados pelo pai ou padrasto, 34,5% por conhecidos da família, 8,3% pelo irmão, 8,3% pelo primo e 5,5% pelo avô. Apenas 2,8% foram vítimas de estranhos. As meninas são maioria - representam 70,5% dos casos. As faixas etárias mais atingidas são entre 6 e 10 anos (45,2% do total) e 2 e 5 anos (36,5%). Em 5,9% das situações houve relato de reincidência do abuso. A autora do estudo, Ana Lúcia Ferreira, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), concluiu que os profissionais que trabalham nas emergências e ambulatórios e recebem crianças e adolescentes que passaram por abuso sexual não são especializados e, por isso, não atendem aos pacientes da forma adequada. "O ideal seria se o primeiro atendimento fosse prestado por um pediatra, mas pode ser um enfermeiro, assistente social ou psicólogo bem treinado. Algumas crianças só contam o que aconteceu na primeira vez em que é perguntada, depois se retrai. Daí a importância de ser um profissional preparado para essa situação", disse Ana Lúcia. A notificação ao Conselho Tutelar, tornada compulsória pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), muitas vezes não é feita por desconhecimento da equipe médica. Ana Lúcia critica também a falta de acompanhamento dos casos - 63,6% abandonam o tratamento. "Tem gente que recebe o atendimento ambulatorial e nunca mais volta."

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