PORTO ALEGRE - Em tempos de acirramento do debate político no País, a vereadora suplente Ariane Leitão, do PT de Porto Alegre, viveu uma situação inusitada por conta de sua filiação partidária. Há duas semanas, um dia após a nomeação do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil e a divulgação da conversa entre ele e a presidente Dilma Rousseff, Ariane recebeu uma mensagem de texto em que a pediatra Maria Dolores Bressan informava que estava “declinando, em caráter irrevogável”, de continuar atendendo seu filho de 1 ano.
Segundo Ariane, a médica acompanhava o bebê desde seu primeiro mês de vida, pelo plano de saúde. Na mensagem, ela pede que a mãe não insista em marcar mais consultas. “Depois de todos os acontecimentos da semana e culminando com o de ontem, onde houve escárnio e deboche do Lula ao vivo e a cores, para todos verem (representante maior do teu partido), eu estou sem a mínima condição de ser Pediatra do teu filho”, disse. Ariane relatou o ocorrido nas redes sociais e o assunto ganhou repercussão. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) defendeu a postura de Dolores e disse que ela respeitou o Código de Ética Médica. A profissional foi procurada pela reportagem, mas não quis comentar. Abaixo, os principais trechos da entrevista de Ariane ao Estado:
Como você reagiu à mensagem enviada pela pediatra do seu filho?
Ficamos chocados e entendemos que é uma violação de direitos umanos de uma criança. Fere a ética profissional. Ela declinou do atendimento e não indicou outro médico. Pra gente que é mãe, e que tem uma relação de cumplicidade com a médica do teu filho muitas vezes maior do que com o teu próprio médico, é chocante, é surpreendente e também deprimente, porque é a manifestação de ódio contra um bebê, e nada pode ser pior do que isso.
Durante o período em que conviveram, vocês tiveram algum tipo de indisposição por conta da posição política de cada uma?
Nunca.
Vocês falavam sobre questões políticas?
Nunca falamos sobre política. A única vez que o tema surgiu foi quando eu assumi temporariamente como vereadora. Meu filho tinha 2 meses e meio e eu ainda estava amamentando. Então eu tive que dizer para ela que estava assumindo. Ela me perguntou a que partido eu pertencia e eu respondi que era do PT. Não teria por que eu tratar de política com ela. Ela deve ter descontado em nós, em mim e no meu filho, a raiva que ela estava sentindo pela situação que o País vive hoje.
Você tomou alguma medida com relação ao ocorrido?
Ainda estamos estudando com os advogados que ações legais serão tomadas. Por enquanto o que fizemos foi denunciar o caso ao Conselho Regional de Medicina.
Como você encara as opiniões das pessoas sobre o caso? Há defensores dos dois lados...
As pessoas que se manifestam a favor da médica é só no sentido passional da questão de (eu) ser petista, politizando o caso. Em nenhum momento eu tratei assim. Ao contrário, eu denunciei uma politização e sigo denunciando. Acho que qualquer mãe ou qualquer pai no meu lugar faria a mesma coisa.