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‘Maduro não tem nada a ver com socialismo’, diz presidente do PSB

Presidente do PSB diz que eleição não garante um regime democrático na Venezuela, e traça paralelo com o Brasil

Por Paula Reverbel
Atualização:

A decisão do Partido Socialista Brasileiro (PSB) de condenar violações a direitos humanos pelo governo de Nicolás Maduro na Venezuela veio na esteira de cobranças internas e da sociedade, de acordo com o presidente da sigla, Carlos Siqueira. “O país (Venezuela) hoje tem as características próprias de um regime autoritário: a existência de presos políticos e a ausência de liberdade de expressão”, disse o socialista ao Estado.

“Não podemos ficar calados porque os direitos humanos estão sendo desrespeitados por alguém que se diz de esquerda”, acrescentou. Já o desligamento do Foro de São Paulo, segundo Siqueira, foi uma mera formalização, já que o partido não participou das últimas três edições. Siqueira também critica a postura adotada até agora pelo presidente Jair Bolsonaro e a compara a de Maduro.

“Esse é um pouco o risco que nós, brasileiros, corremos, já que elegemos um presidente que não respeita a democracia. Elogia torturadores e desrespeita a imprensa.”

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O que levou o partido a repudiar as violações de direitos humanos na Venezuela?

O PSB tem na sua base a ideia do socialismo democrático, ou seja, plural. Diferentemente do stalinismo, a nossa ideia, na fundação do partido, foi crítica ao socialismo autoritário. Nunca tivemos nenhuma relação com o governo Hugo Chávez ou com o governo Nicolás Maduro, nunca tivemos uma reunião com o partido socialista da Venezuela. Ao mesmo tempo, estávamos sendo cobrados sobre por que a gente não dizia nada sobre isso. Achei que as pessoas tinham razão. O regime Chávez pareceu que seria outra coisa e acabou se transformando em um regime autoritário. A Michelle Bachelet – que, além de ser Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, é socialista – esteve lá e constatou prisões políticas, ausência de liberdade, desrespeito aos direitos humanos. Então, esse relatório foi muito importante para a gente, ninguém pode dizer que fizemos isso combinando com os Estados Unidos. O José Mujica deu declarações nesse sentido. Achamos que era hora de dizer que isso (que o governo Maduro faz) não tem nada a ver com o socialismo.

Carlos Siqueira, presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro(PSB) Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

Acha que a Venezuela vive uma ditadura?

Embora tenha um presidente que foi eleito, a eleição em si, apesar de indispensável, não garante que a Venezuela seja um regime democrático. O país hoje tem as características próprias de um regime autoritário: a existência de presos políticos e a ausência de liberdade de expressão. Esse é um pouco o risco que nós, brasileiros, corremos, já que elegemos um presidente que não respeita a democracia. Elogia torturadores e desrespeita a imprensa.

O que levou à saída do Foro de São Paulo?

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Há três edições, o PSB não participa. Os partidos socialistas da América Latina têm uma visão crítica do Foro. Quando participamos, não tínhamos uma identidade. Então, decidimos que, já que estamos fora na prática, seria melhor oficializar. 

Quais são as críticas que fazem ao Foro?

A sua condução sempre foi bastante centralizada, não permitia uma discussão mais aberta sobre a conjuntura latino-americana. Fomos nos desanimando com isso e abandonando ao longo do tempo. Temos construído nos últimos anos uma relação fora desse âmbito. Entramos na Aliança Progressista, que é uma articulação de partidos socialistas e social-democratas de todo o planeta, que tem coordenação na Alemanha, no partido social-democrata alemão. Fomos o primeiro partido do Brasil a aderir. Passamos a participar da Coordenação Socialista Latino-Americana (CSL), que o PSB coordena há algum tempo e é composta de partidos socialistas da América Latina.

Havia cobrança para se posicionar sobre a Venezuela?

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Havia uma cobrança interna e no plano externo, da sociedade, para que nós mostrássemos que não temos vínculo com esse governo. Então, não podemos ficar calados porque os direitos humanos estão sendo desrespeitados por alguém que se diz de esquerda. Temos de defender os direitos humanos quando eles forem desrespeitados por quem quer que seja. Da mesma maneira que nós resolvemos dizer que não reconhecemos o Juan Guaidó como presidente autointitulado. E também não podemos concordar que a crise na Venezuela seja resolvida por outros países, como Brasil – conforme o presidente Jair Bolsonaro sugeriu – ou Estados Unidos. A sociedade venezuelana que tem de decidir sobre essas coisas.

O PT fez o oposto, e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, vem reiterando o apoio ao regime Maduro. O que acha isso?

Nós somos um partido de esquerda, mas de outra natureza. Não vou dar opinião sobre o PT, isso é com eles. Nós falamos por nós.

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Mas vocês suprem um vácuo junto ao eleitorado que é de esquerda e é democrata? 

Essa avaliação eu penso que seja feita pelas pessoas que não são do PSB. Pessoas que analisam o cenário. Nós queremos falar sobre a sociedade brasileira sobre uma postura nossa.

O presidente Bolsonaro já dá declarações sobre sua candidatura à reeleição. O que acha disso?

Acho que é muito cedo para falar de 2022 porque temos uma outra eleição pela frente. Mas o Bolsonaro resolveu fazer essa antecipação sem ter resolvido um único problema que ele encontrou como presidente. Eu acho isso negativo, pois os partidos deveriam estar dedicados a encontrar uma solução para os problemas do País.

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