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Madeira Mamoré tenta resistir à sua segunda morte

Por Agencia Estado
Atualização:

Às margens dos rios Madeira e Mamoré, no Estado de Rondônia, a lendária Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), um dos mais ricos legados históricos do Brasil, vem sendo saqueada e corre o risco de jamais vir a ser declarada patrimônio nacional, como esperam os habitantes da região desde 1980. Famosa pelos seus míticos ?trilhos de ouro? e pela lenda de que milhares de seus operários foram sepultados debaixo dos seus dormentes, a chamada ?Ferrovia da Morte?, ligava as cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim. A estrada, que no início do século 20 foi a mais cara do Brasil, apresenta hoje um triste retrato do descaso. ?O pátio da estação (de Porto Velho) virou centro de prostituição. O prédio da rotunda está sendo usado para vender drogas?, denuncia, em seu site na Internet, a associação britânica Madeira Mamoré Railway Society (MMRS), que atua junto a Associação de Amigos da Madeira Mamoré, em Porto Velho. ?Quando visitei Rondônia em 1998, vi que a Madeira Mamoré era digna de um estatuto de Patrimônio da Humanidade, mas hoje a situação é desesperadora?, afirma Martin Cooper, presidente da MMRS e membro da prestigiosa Sociedade Real de Geografia em Londres. Espólio dilapidado Karina Burigo/AEHeráclito Rodrigues, condutor aposentado da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Desativada e erradicada pelo regime militar, a Madeira Mamoré foi substituída por uma estrada de rodagem entre 1966 e 1972. Grande parte do que restou do complexo ferroviário está concentrado na estação da capital do Estado, à beira do rio Madeira. Locomotivas a vapor alemãs e americanas, equipamentos e edifícios antigos enferrujam ao abandono. Roubos ou atos de vandalismo vêm dilapidando o pouco que se preservou do espólio. Após investigação, em maio 2002, a Promotoria de Justiça do Estado de Rondônia informou a Martin Cooper que ?desaparecem alguns objetos do acervo sob as vistas de alguns ex-ferroviários que se dizem guardiães da Madeira Mamoré?. No mesmo comunicado, a promotoria declara que ?a segurança de todo o patrimônio tem sido feita de forma precária?. Patrimônio de fato, mas não de direito, o complexo ferroviário entrou em processo de tombamento em 1980. Encarregado de estudar e declarar a proteção legal do espólio rondoniense, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tem dificuldades financeiras para concluir o seu trabalho. ?A primeira regional do IPHAN de Manaus (encarregada, entre outros estados, pelo espólio de Rondônia) está de mãos atadas. Não tem verba para enviar uma equipe a Porto Velho e fazer um levantamento atual do que pode ser tombado na ferrovia?, explica o coordenador de Proteção pelo IPHAN, José Leme Galvão. Também por falta de verba, o museu da ferrovia, organizado em um antigo galpão de manutenção da estação, custa a proteger e catalogar o acervo reunido pela população local na década de 80.

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