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Lula vê erros na negociação com os tucanos sobre a CPMF

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Por Lu Aiko Otta
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que o governo errou na condução das negociações com o PSDB para aprovar no Senado a emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Em Santiago do Chile, onde participou da 17ª Cúpula Ibero-Americana, encerrada ontem, o presidente avaliou que a negociação se deu por intermédio da imprensa e isso provocou "ciumeiras internas" e "debates desnecessários" que acabaram atrapalhando os entendimentos. "O bom acordo é o que se faz em silêncio e depois anuncia o resultado de forma consagradora", disse. "Eu nunca acreditei na minha vida em qualquer acordo que você faça pela imprensa. Desde 1975, quando eu negociava como presidente de sindicato, se uma notícia saísse antes da negociação, a negociação estaria atrapalhada." No caso da CPMF, a tentativa de entendimento deu em nada. Na semana passada, os senadores tucanos interromperam as negociações. Em reunião da bancada, 9 dos 13 parlamentares votaram pela rejeição ao pacote proposto pelo governo, no qual a contribuição seria prorrogada até 2011, mas compensada com outras formas de redução da carga tributária. Nos bastidores do Planalto corre a avaliação de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi inábil nas negociações com o PSDB. Um dos pontos que mais chamaram a atenção foi sua entrevista sobre a proposta de dedução da CPMF do Imposto de Renda. Diante dos jornalistas, ele e o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, deram explicações diferentes para o mecanismo, deixando patente o desentrosamento da equipe econômica. Na quarta-feira, Mantega divulgou um levantamento das perdas que os Estados terão se não puderem contar com repasses da CPMF. No dia seguinte, o governador paulista, José Serra (PSDB), considerou inaceitável o corte dos repasses. Seu colega mineiro, Aécio Neves, também tucano, classificou a divulgação do estudo de "terrorismo". São Paulo sofreria perdas de mais de R$ 3,77 bilhões e Minas Gerais, de R$ 1,61 bilhão. EXPECTATIVA Esta semana, Lula deve encontrar-se com o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), para uma nova tentativa de chegar a um acordo. Tasso foi um dos senadores que votou por continuar as negociações na reunião da bancada. "Ainda acredito nas conversas com o PSDB, temos algum tempo ainda, de forma que eu estou tranqüilo com a votação da CPMF", comentou Lula. Ele disse que o governo tem maioria para votar a emenda no Senado, mas quer construir uma "relação diferenciada" com os tucanos. "Tivemos uma relação histórica com o PSDB. Quando ninguém era PSDB, ninguém era PT, todo mundo era amigo." Para renovar a CPMF são necessários os votos de 49 senadores, três quintos da Casa. O governo de fato tem maioria, mas ela é bastante apertada e há parlamentares da base aliada que ameaçam votar contra a proposta. Ontem, o presidente admitiu a possibilidade de o Congresso até rejeitar a prorrogação do tributo. "Quem perde é o Brasil, não é o presidente Lula", afirmou. "Pode ficar certo de que vamos arrumar R$ 40 bilhões, vamos tirar R$ 40 bilhões de algum lugar." Pela legislação atual, a vigência da CPMF termina em 31 de dezembro.

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