Lula vai à missa e ouve sermão de frei Betto

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu hoje à missa ecumênica realizada no Salão Oeste do Palácio do Planalto, em comemoração à Quinta-feira Santa e ouviu do seu assessor especial frei Betto comparações de seu governo com a Paixão de Jesus Cristo. Para o frei dominicano, a afirmação de Lula de que ele é o servidor público número um está associada à lavação dos pés dos apóstolos por Jesus na noite da Santa Ceia, um exemplo de humildade citado na Bíblia. O frei disse também que o programa Fome Zero seria "a versão política da multiplicação dos pães", numa alusão ao milagre do Messias no episódio do Sermão da Montanha. O presidente, acompanhado da primeira dama, Marisa Letícia, não se pronunciou durante a missa. Mas ouviu do frei Vicente Bohne que o exemplo de Jesus na Semana Santa foi a paixão com que realizou "seu projeto". "Às vezes temos que ter paciência", disse o frei, "pois não são os projetos que salvam, mas é a paixão que gera vida". "Lula é um homem apaixonado", disse o religioso. Frei Betto fez referência à lavação dos pés por Jesus, salientando que o poder é para servir. "O poder é serviço, não é mando, não é tirania, não é arrogância", afirmou. E numa solenidade sem a presença dos ministros que estavam presentes no Planalto ? reunidos naquele momento para discutir providências contra as calamidades no Sul do país em decorrência da seca ? o dominicano lembrou os auxiliares mais próximos do presidente. "A palavra ministro quer dizer servir aos menores". E citou a conclusão do discurso de posse do presidente, em 1.º de janeiro de 2003: "Agora sou o servidor público número um". O assessor especial do presidente voltou a criticar a falta de políticas para o combate à fome no mundo. "O maior escândalo do século 21 é a fome", disse ele, lembrando que o terrorismo, a Aids e a guerra juntos matam menos do que a falta de alimento para as classes desfavorecidas. "Mas a Aids, a guerra e o terrorismo não fazem distinção de classe e a fome faz", argumentou. "O programa Fome Zero é a versão política da multiplicação dos pães e peixes", concluiu. O assessor especial aproveitou sua preleção para criticar o filme A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson. "É duro ver um filme de grande sucesso centrar toda a vida de Jesus na dor e não no amor e nesta Páscoa temos que acentuar a dimensão amorosa de Jesus", concluiu. Na missa, o Coral da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, uma igreja da Samambaia, cidade satélite de Brasília, entoava versos como "peregrino de um mundo desigual, espoliado pelo lucro e ambição do capital, do poder do latifúndio, enxotado e sem lugar, já não sei pra onde andar". Depois da leitura da Última Ceia, o Coral da Igreja Adventista de Brasília apresentou Aleluia, Aleluia, do oratório Messias, de Georg Friedrich Haendel, encerrando a missa. O presidente foi pessoalmente cumprimentar os integrantes do coral e fez votos de boa Páscoa aos brasileiros numa rápida declaração aos jornalistas. "Espero que o povo brasileiro possa ter uma Páscoa tranqüila e que Deus possa ajudar o povo brasileiro, sobretudo aqueles que estão sofrendo, que estão desempregados", disse. "Acho que temos que ter compreensão que a Páscoa será melhor comemorada por uns do que por outros, mas o que faz a Páscoa não é a questão econômica". Segundo o presidente, "o que vale na Páscoa é a paixão que a gente tem dentro da gente, é a disposição de servirmos aos semelhantes". Questionado sobre a atuação do Movimento dos Sem-Terra (MST), o presidente não respondeu. "Já falei com vocês, já falei sobre a Páscoa".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.