Lula testa potencial de Dilma para 2010

Ministra, escolhida para anunciar boas notícias, vive superexposição

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Por João Domingos
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem aproveitado todos os eventos bons para dar destaque à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Foi assim no anúncio da descoberta de uma megajazida de petróleo na Bacia de Santos, na segunda quinzena do mês passado, e assim foi no lançamento da TV digital, anteontem. Nos dois casos, a divulgação da novidade coube à ministra e não ao titular da área. Políticos e até mesmo alguns auxiliares do presidente disseram ao Estado que por trás da superexposição da ministra há um objetivo político, embora as justificativas sejam sempre técnicas. Trata-se de um teste que Lula estaria fazendo com Dilma para saber quais são as possibilidades de transformá-la em candidata a sua sucessão, em 2010. Primeiro, é preciso ver como será a reação da base aliada e da sociedade em relação ao fato de Dilma começar a aparecer muito. Se for bem aceita, continuará à frente de projetos interessantes, como já o faz, ao comandar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se não pegar, busca-se outro candidato. "Está claro que o presidente da República tem a intenção de construir a candidatura de Dilma Rousseff a sua sucessão", disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). No Palácio do Planalto, os que procuram desvincular a exposição de Dilma de quaisquer segundas intenções políticas dizem que coube a ela fazer o anúncio da descoberta da super-reserva de petróleo porque é a ministra que mais conhece o setor. Um desses auxiliares afirmou que era preciso dar um peso político ao anúncio da descoberta da megajazida de petróleo na Bacia de Santos. Ele observou que o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, é um "bom sujeito", mas sem força política. Dilma, ao participar do anúncio, conseguiu dar a ele um peso político, ao mesmo tempo em que era anunciada a decisão do governo de suspender o leilão de áreas onde a Petrobrás já havia feito a descoberta. A presença da ministra, portanto, obedeceu a uma razão de Estado, disse esse assessor do presidente. MESTRE DE CERIMÔNIAS Quanto à cerimônia de lançamento da TV digital, no domingo, o Palácio do Planalto tem uma explicação técnica para a aparição política. De acordo com um auxiliar do presidente, quem negociou os padrões para a TV digital foi Dilma. A palavra final sobre a adesão ao sistema japonês coube a ela. Durante dois anos, informou ainda o assessor de Lula, a ministra comandou um grupo de trabalho sobre a TV digital. Desse grupo participaram integrantes dos Ministérios das Comunicações, de Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento, entre outros. Portanto, na visão do governo, nada mais justo do que Dilma ser a mestre de cerimônias da TV digital. Quem conhece o estilo de Lula sabe que, ao fazer Dilma aparecer mais do que outros ministros, ele repete uma prática que usa desde os tempos de sindicalista. Quando quer fazer alguém subir, o expõe. Se perceber que está perdendo o controle, dá um jeito de derrubá-lo. Exemplo disso foi a passagem de José Dirceu (Casa Civil, antecessor de Dilma) pelo governo. Quando percebeu que o "ex-capitão do time" estava se projetando, elevou Antonio Palocci (então ministro da Fazenda), de forma a neutralizar o então chefe da Casa Civil. Quando Palocci começou a ficar independente demais, Lula deu corda para Tarso Genro.

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