O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em entrevista à Rádio Capital, emissora AM de São Paulo, que é "importante levar a sério" os documentos revelados pelo Estado sobre a repressão à Guerrilha do Araguaia, guardados por 34 anos pelo oficial da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió. Para o presidente, é preciso "analisar o que é verdade, o que não é verdade, porque não se pode ficar atrás do chutômetro". Lula prometeu resolver ainda nesta semana a divergência entre o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o secretário especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannucchi, sobre a participação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos e de representantes dos familiares nas buscas por corpos no Araguaia. Vannucchi havia pedido ontem a Lula que garantisse a presença da sociedade civil nas buscas. De acordo com os arquivos de Curió, 41 guerrilheiros foram executados quando já estavam presos e não ofereciam risco às tropas. Na versão militar, 67 guerrilheiros estavam de armas na mão quando morreram. A falta de arquivos e informações oficiais era apontada como a grande dificuldade para que corpos dos guerrilheiros fossem encontrados e mais detalhes fossem revelados. Lula citou a comissão de buscas criada por Jobim para investigar os desaparecidos e contou que há cerca de 15 dias havia pedido ao próprio Jobim, coincidentemente, que conversasse com Curió sobre os arquivos. "Falei: ?Ele deve saber de muita coisa.? Mas nem sei se o ministro Jobim conversou com ele", relatou o presidente. A revelação das execuções reforçaram também a pressão para identificar corpos retirados em 1996 e 2001 de cemitérios em Xambioá (TO), local do conflito, entre 1972 e 1975. Dez restos mortais ainda esperam para ser identificados nos armários do Ministério da Justiça. Para Lula, é preciso esclarecer o caso "de uma forma muito madura, muito consciente, sem revanchismo, para que o Brasil tenha sua história verdadeiramente contada". "Porque uma mãe que tem um filho desaparecido e não sabe o paradeiro dele, essa mãe só vai se conformar quando enterrar o filho." Como ação paralela do governo, Lula citou uma campanha publicitária que será veiculada em agosto para coletar informações da ditadura. "Vamos fazer um chamamento", disse.