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Lula quer colocar hoje um ponto final na crise com o vice

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai procurar hoje seu vice José Alencar (PL-MG) para tentar pôr um ponto final na crise que veio à tona com a enxurrada de críticas públicas do ex-senador à política econômica do governo. Em breve, quem fará o mesmo é o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Mesmo entendendo que Alencar é porta-voz do setor empresarial, a conclusão do Palácio do Planalto é de que a situação chegou ao limite. "O presidente terá que se sentar com ele e conversar tudo isso pão, pão, queijo, queijo", antecipa um líder da base aliada. O falatório de Alencar foi um dos assuntos da reunião da coordenação política do governo ontem, no Planalto. "Fica o governo de vilão na questão de juros e ele de mocinho", queixou-se o ministro da Casa Civil, José Dirceu. "Assim não dá. Realmente está muito difícil tocar o governo desse jeito." Mas não será tarefa fácil acalmar o vice e fazê-lo calar. Com o apoio do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto (SP), e de liberais Brasil afora, Alencar já comunicou ao ministro dos Transportes, Anderson Adauto, do PL mineiro, que dará seguimento a sua campanha contra os juros altos, e avisou ao apadrinhado: "Espero que você não tenha apego ao cargo." Segundo um importante interlocutor presidencial, José Dirceu tem a dimensão exata da crise política em que o vice já admite até retaliações do governo sobre o ministro do PL. Tanto que Lula não vai chamar Alencar e Palocci para uma conversa única. Nesse caso, pareceria que estaria enquadrando os dois. Segundo o colaborador do presidente, Lula foi aconselhado a conversar sozinho com seu vice e a usar todo seu charme e seu tato. Tudo para que o encontro não pareça um puxão de orelhas e produza efeito contrário, ampliando ainda mais a crise. O problema ganhou dimensão quando o vice visitou o ministro Palocci há cerca de duas semanas para falar de juros, com o balanço de sua empresa, a Coteminas, de baixo do braço. Alencar não se conforma com o fato de a conversa ter vazado para a imprensa, justamente com o destaque para o fato de o vice ter levado o balanço de sua empresa. "O vice disse que o governo agiu de forma desleal com ele, ficou magoadíssimo e não aceita isto", conta um amigo de Alencar. "Se tem mágoa e há ferida, o governo e o presidente têm que tratar isso com muito carinho e passar bálsamo porque o José Alencar é nosso companheiro", defende o deputado Paulo Rocha (PT-PA). "O problema é que, toda vez que ele faz pressão e leva a público sua luta contra os juros altosd, ele só favorece à especulação, anulando sua própria luta", argumenta o vice-líder do governo na Câmara, professor Luizinho (PT-SP). Mas o ministro Dirceu e o presidente também estão magoados com o vice. "O Zé Alencar descumpriu o acordo de não falar sobre política econômica enquanto Lula estivesse fora do País e, ele, no exercício da presidência", conta o interlocutor presidencial. Não que o presidente tenha se esquecido de que Alencar foi o responsável por quebrar as resistências do setor empresarial em relação à sua candidatura. Lula é grato a isso, mas acha que o vice não precisaria mais falar tanto nem fazer críticas à equipe econômica, principalmente ao ministro Antonio Palocci. O presidente mesmo era a favor de baixar os juros, mas foi convencido de que essa decisão é muito mais técnica do que política e não poderia ser adotada nos primeiros meses. Há no governo a esperança de que o BC consiga rolar bem a dívida que vence no dia 12. Nesse caso, haveria espaço para baixar o Conselho de Política Monetária (Copom) baixar os juros pelo menos ou pouquinho já na reunião do dia 17.

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