Lula planeja pedir dois anos de trégua à oposição

Presidente deve negociar com governadores tucanos, FHC e até mesmo com PFL

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Por Agencia Estado
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Encerrada a reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai procurar se reaproximar da oposição. Em conversa com um interlocutor, na quarta-feira, 14, Lula confidenciou que deve estreitar as relações com os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, e se dispôs até mesmo a conversar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para que seja pactuada uma trégua de pelo menos dois anos. O deputado José Aníbal (PSDB-SP) disse que o ex-presidente não se oferecerá, mas se for convidado aceitará conversar com Lula, por uma questão de princípio - não se recusa convite de presidente da República para discutir questões de interesse do Brasil. "Fernando Henrique já deixou muito claro que convite ao diálogo feito por presidente não se recusa", explicou Aníbal. "Ele aceitaria dialogar, não tenha dúvida, e já deixou isso muito claro para mim." Procurado no fim da tarde de domingo, 18, Fernando Henrique não foi encontrado. Até mesmo aos pefelistas - considerados oposicionistas mais ferrenhos e menos ciclotímicos do que os tucanos - seriam enviadas mensagens de paz. Em recente passagem pelo Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, onde se submeteu a uma bateria de exames, Lula fez questão de passar para fazer uma visita ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que passou dias internado com pneumonia. O cacique baiano deu sinais de valorizar a gentileza. "Eu não vou esquecer desse gesto", afirmou o senador. O Palácio do Planalto não deseja que se enxergue o aceno a tucanos e pefelistas como uma espécie de cooptação. Na verdade, o que Lula espera é criar as condições políticas para governar em um clima de pouca tensão entre governo e oposição e que possa permitir ao País um crescimento mais efetivo. Ele não quer repetir o clima do primeiro mandato, quando o seu governo ficou como uma ilha, cercado de denúncias por todos os lados, por conta da revelação de irregularidades. Em contrapartida, Lula estaria disposto a fazer um governo menos petista e mais plural, que negociasse com a oposição sempre que necessário. "O presidente já percebeu que paira acima dos partidos e agora quer atrair a oposição", resumiu o interlocutor após a conversa com Lula. Se a estratégia funcionar, Lula teria as condições políticas ideais para permitir que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deslanchasse. Tradição Essa não é a primeira vez que um presidente reeleito busca a construção de uma ponte com a oposição para evitar um segundo mandato tumultuado. Ao se reeleger em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também pretendia desanuviar o clima de tensão entre o PSDB e o PT. Com o poder renovado pelas urnas, FHC se imaginava forte o suficiente para tentar obter uma trégua com os petistas. No poder, FHC convidou Lula para uma conversa no Alvorada na condição de maior líder da oposição. Ali, Lula percebeu que atenuar o tom oposicionista do PT beneficiava o seu oponente e não trazia nenhum benefício concreto aos oposicionistas. O mesmo raciocínio vale agora, de acordo com avaliação de tucanos. A trégua pode ser positiva para os governadores de São Paulo e Minas em um primeiro momento, por conta até dos interesses administrativos que compartilham, mas no fundo ela acabará sendo fundamental para que o presidente tenha de novo nas mãos o jogo de sua própria sucessão. Desconfiada, a oposição recebeu a sinalização dividida. Parte do PSDB acredita que a proposta do presidente é uma armadilha política. Com a trégua, os oposicionistas estariam pavimentando o caminho até 2010 de Lula e das forças que o apóiam. "O PSDB não pode aceitar a trégua de dois anos, porque a oposição não pode fazer tábula rasa para os episódios de corrupção", reagiu o líder da minoria, Júlio Redeck (PSDB-RS). "Isso seria o mesmo que dar um cheque em branco para o presidente Lula. Afinal, não existe governo acima do bem e do mal." Na sua avaliação, os governadores José Serra e Aécio Neves, por mais promessas que recebam de ajuda do Palácio do Planalto nos próximos dois anos, não aceitarão o convite para uma convivência pacífica e harmoniosa. Para o deputado José Aníbal, no entanto, é hora de a oposição jogar diferente. "O Brasil não pode perder mais oportunidades para crescer", disse. "Nós, da oposição, não podemos entrar no jogo da guerra. Temos que dialogar e, através do diálogo, mostrar o quanto nós somos diferentes."

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