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Lula pede a Dilma para blindar Levy, afrouxar o ajuste e se reaproximar de Temer

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou preocupação com as especulações sobre a saída do ministro da Fazenda

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Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA - Em conversa reservada com a presidente Dilma Rousseff, na noite desta quinta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou preocupação com as especulações sobre a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e disse a ela que o governo não pode deixar dúvida sobre a permanência do auxiliar. Mesmo assim, Lula insistiu que é preciso afrouxar um pouco o ajuste fiscal, para permitir o crescimento.

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O ex-presidente também pediu a Dilma que se reaproxime do vice, Michel Temer (PMDB), que ontem, em mais uma rodada de conversas com empresários, admitiu ser difícil um governante resistir mais três anos com popularidade baixa. A frase foi interpretada por petistas como uma tentativa do vice de se credenciar para o lugar de Dilma.

Lula afirmou a Dilma que ela precisa “agir rápido” tanto na economia como na política. Para ele, se o governo perder o apoio do PMDB de Temer e também do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), o desfecho da crise pode ser imprevisível.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy e a presidente da República, Dilma Rousseff Foto: Dida Sampaio/Estadão

A reunião entre Dilma e Lula ocorreu no Palácio da Alvorada, poucas horas depois do encontro que ela teve com Levy e com os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Aloizio Mercadante (Casa Civil). O governo saiu a campo para a operação “segura Levy”, na tentativa de abafar a crise, depois que o titular da Fazenda escancarou o mal-estar por se considerar desprestigiado na equipe.

 Um auxiliar de Dilma disse ao Estado que o ministro da Fazenda só não deixou o cargo, ainda, porque tem “responsabilidade com o País” e por temer o rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco, com perda do grau de investimento.

Levy ficou muito contrariado com o vaivém das decisões dos últimos dias no governo, passando a imagem de incerteza na condução da economia, com repercussão negativa no mercado. Brigou pelo superávit de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2016, mas acabou derrotado.

Além disso, ele não escondeu o descontentamento com as sucessivas críticas ao ajuste fiscal, até mesmo por parte do PMDB de Temer, que lhe dá sustentação. O ministro chegou a reclamar com o próprio Temer.

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Os ataques do PT também incomodam Levy. Neste sábado, a Frente Brasil Popular – composta por PT, PC do B, PSB e PDT, além de representantes de movimentos sociais e centrais sindicais – lançará um manifesto, em Belo Horizonte, pregando a mudança radical da política econômica. Faixas de “Fora Levy” são esperadas no encontro.

Lula e o PT sempre foram mais próximos de Nelson Barbosa do que de Levy. O ex-presidente avalia, no entanto, que o PT deve “segurar a onda” nesse momento e não pregar a saída do comandante da economia. No seu diagnóstico, o governo precisa fazer, sim, algumas concessões, e não cortar investimentos. Na lista das concessões defendidas por Lula está o aumento da oferta de crédito por bancos públicos. O ex-presidente alega que nenhum país consegue se recuperar com recessão.

Para Lula, a decisão do governo de expor o déficit de R$ 30,5 bilhões, ao enviar para o Congresso a proposta de Orçamento de 2016, foi mais política do que técnica. Levy foi contra e achava que era preciso cortar mais R$ 15 bilhões, para evitar escancarar o rombo. Na avaliação do ex-presidente, porém, se o governo “trabalhar direito” e conseguir se recompor com o PMDB, há espaço para negociar com o Congresso soluções para sair da crise política e econômica. 

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