Lula não quer intrigas dentro das Câmaras

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Por Agencia Estado
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Na instalação da Câmara de Política de Desenvolvimento Econômico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu, ontem, as regras para seu funcionamento. Ele deixou claro que não admite que a nova câmara se transforme num ringue de disputa de poder. "Se for para ser uma Câmara que crie problemas e intrigas pela imprensa, ela vai deixar de existir", afirmou, segundo ministros que participaram do encontro fechado. Lula quer evitar que o poder dado ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, de comandar a câmara, acabe provocando algum tipo de ruído na condução da política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Dirceu cuidará das linhas da política de desenvolvimento, mas não poderá extrapolar a tarefa. Dirceu entendeu o recado e adotou tom humilde ao garantir que o novo fórum de coordenação dos programas de governo não se pautará por disputas nem por concorrências internas. "Sou mais um facilitador do que um coordenador." Um dia após a derrota da equipe econômica - obrigada a desistir do aumento da contribuição previdenciária das empresas para pagar a correção devida a aposentados -, Dirceu insistiu em que sua nova tarefa não se sobrepõe às funções da Câmara de Política Econômica, comandada por Palocci. Lula abriu a reunião afirmando que a câmara capitaneada por Dirceu não prejudicará o trabalho das outras. O presidente quer neutralizar comentários de que, com a reabilitação pública do chefe da Casa Civil depois do escândalo Waldomiro, teria incentivado a disputa já abafada entre Dirceu e Palocci, institucionalizando a divisão entre desenvolvimentistas e monetaristas dentro do governo. Indicadores Em sua exposição, Palocci exibiu uma lista de indicadores econômicos favoráveis. Argumentou que o esforço feito até agora foi justamente para permitir o desenvolvimento, com geração de emprego e renda. "Hoje nós podemos apresentar um país com as contas saneadas e o ajuste macroeconômico realizado." Em conversas reservadas, porém, dirigentes petistas têm dito a Palocci que sua equipe precisa mostrar mais sensibilidade política. "Não podemos criar um ambiente em que pareçamos fiscalistas insaciáveis", afirmou um ministro do PT. Na abertura da reunião, Lula reiterou que o governo tem trabalhado com persistência por um longo período de crescimento, ancorado no ajuste fiscal, na inflação sob controle e nas contas externas favoráveis. "Não é uma bolha", resumiu o porta-voz André Singer. ?Gerentão do governo? Embora interlocutores do presidente assegurem que a Câmara de Política de Desenvolvimento, com 14 ministros, vai cuidar única e exclusivamente de programas que têm por objetivo dar sustentação ao crescimento, na prática não é bem assim. Mesmo sem esforço, Dirceu e seu time poderão criar um contraponto à chamada ortodoxia fiscal, apresentando alternativas que apontem para novos caminhos. Foi o que ocorreu nos últimos dias: publicamente, o chefe da Casa Civil defendeu o aumento da contribuição previdenciária das empresas para financiar o pagamento de aposentadorias e pensões devidas desde de 1994. Mas seus principais aliados, como os presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e o do PT, José Genoino, foram implacáveis nas críticas à elevação da carga tributária. Conclusão: o governo foi obrigado a ceder às pressões e recuar. Agora, Dirceu foi, enfim, reabilitado como capitão do time - o "gerentão" do governo.

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