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Lula: 'Não falta democracia na Venezuela de Chávez'

Por Tania Monteiro
Atualização:

Em meio ao debate sobre o bate-boca entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o rei da Espanha, Juan Carlos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do colega do país vizinho. "Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa, inventam uma coisa para criticar. Agora, por falta de democracia na Venezuela, não é", disse. Numa entrevista no Itamaraty, onde almoçou com o presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo Nino Vieira, Lula afirmou que não falta democracia e discussão na Venezuela. "Democracia é assim: a gente submete aquilo que acredita, o povo decide e a gente acata o resultado. Se não, não é democracia", disse. Além de defender o ingresso da Venezuela no Mercosul, ele lembrou que está há cinco anos no poder, vai chegar a oito e, nesse período, acompanhou duas eleições para prefeitos. Na Venezuela, ressaltou, já houve três referendos, três eleições e quatro plebiscitos. Ao comentar o bate-boca entre Hugo Chávez e Juan Carlos, ocorrido semana passada no Chile, Lula diz que não ficou constrangido. Para o presidente, não houve humilhação a Chávez. "Somos um conjunto de países democráticos que fizeram uma reunião democrática onde todos têm o direito de falar, tema livre, aquilo que lhe interessa", afirmou. Lula disse avaliar que não houve exagero por parte de Chávez, que chamou o ex-primeiro ministro espanhol José Maria Aznar de "fascista", causando a irritação do rei. "Houve uma fala do Chávez que o rei achou que era demais, que era uma crítica ao ex-primeiro ministro da Espanha, que tinha o apoiado o golpe (tentativa de golpe na Venezuela, em 1992)", relatou Lula. "E a diferença, qual é? É que o rei estava na reunião. E quem falou ''cala-te'' foi o rei. Ou seja, não foi um de nós. Entre nós, divergimos muito." O presidente citou outras divergências que participou da reunião do G-8, com a primeira ministra Angela Merk, quando disse que do jeito que estava acontecendo aquela reunião não lhe interessava participar. "Do jeito que estava acontecendo, eu não tenho interesse de ir porque não estou disposto a ser tratado como cidadão de segunda classe. Ou fazemos uma reunião para discutir os problemas do mundo, ou não fazemos", lembrou. Ele voltou a comparar a continuidade de Chávez no governo com a permanência de outros dirigentes europeus em seus cargos. "Por que ninguém se queixa quando Margareth Thatcher (primeira ministra da Inglaterra por dois mandatos) ficou tantos anos no poder?", indagou. Diante da observação de repórteres de que eram situações distintas, o presidente reagiu: "Distintos, por quê? É continuidade. Não tem nada de distinto. Muda apenas o sistema. Muda apenas de regime presidencialista para parlamentarista. Mas o que importa não é o regime, é o exercício do poder". Lula passou, então, a citar o nome de outros chefes de governo que ficaram por muitos anos em seus cargos. "Ninguém se queixa do Felipe Gonzalez (ex-primeiro ministro espanhol), do Miterrand (François Miterrand, ex-primeiro ministro da França) e nem do Helmut Kohl (ex-primeiro ministro da Alemanha), que ficou por volta de 16 anos no poder." Para o presidente, é preciso respeitar a autonomia e soberania de cada país. "Se nós dermos menos palpites nas regras do jogo de outros países e olharmos o que estamos fazendo, todos nós sairemos ganhando. Mas se a gente achar que pode dar palpite em tudo e que só pode acontecer no mundo o que a gente quer, seremos eternamente infelizes." E prosseguiu: "é melhor que os outros decidam os seus destinos e nós decidamos os nossos".

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