Lula monta estratégia de ataque para prorrogar CPMF

Governo decide implodir o DEM e continuar negociando com Aécio e Serra

Por Christiane Samarco
Atualização:

Implodir o DEM (ex-PFL) e continuar a negociar com os dois governadores do PSDB, Aécio Neves (MG) e José Serra (PSDB). Essa é a estratégia definida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no trabalho de preparar o terreno do Senado para vencer a oposição e aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC) que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Para derrubar a resistência do PSDB, o governo joga com o interesse dos dois maiores líderes do partido, os seus governadores. Sobre a cabeça de Serra, pesa um pedido de empréstimo externo de R$ 4 bilhões junto ao Banco Mundial (Bird), que ainda depende de autorização do Tesouro. Também está pendente de aval do governo a concessão de empréstimo semelhante ao governo de Minas, no valor de R$ 2 bilhões. Isto, sem falar da pressão em torno de projetos essenciais aos Estados dos líderes tucanos, como a implantação de uma siderúrgica no Ceará do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati. Diferentemente do tucanato, que admite negociar a redução da alíquota da CPMF dos atuais 0,38% para 0,20%, o partido Democratas insiste na derrubada da PEC. Para pôr abaixo o discurso do "xô CPMF", entoado pelo DEM, o presidente Lula entrou pessoalmente na articulação que visa a esvaziar a bancada de 13senadores. Disposto a afastar qualquer risco de derrota, Lula quer fortalecer a base aliada no Senado, onde a maioria governista é estreita, transferindo cinco senadores do DEM para partidos aliados. A contabilidade mais pessimista do Planalto aponta a cooptação, já em curso, de quatro democratas, podendo chegar a seis numa conta mais otimista. O governo trabalha com prazo até 30 de setembro para concretizar o troca-troca partidário antes de a PEC da CPMF, que está sendo apreciada na Câmara, chegar ao Senado. Não foi à toa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou o governador de Minas para tomar um "cafezinho" com ele no Planalto ontem. Antes de comparecer no início da tarde à audiência com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para tratar do Aeroporto Tancredo Neves, em Confins, Aécio conversou com o presidente sobre CPMF. Na conversa, Lula expôs claramente sua preocupação em aprovar a PEC. "O presidente insistiu que considera a CPMF fundamental ao equilíbrio das contas públicas e que quer manter um diálogo com a oposição em busca de uma convergência no Senado," contou Aécio depois do encontro. O governador chamou a atenção para a postura "mais equilibrada" dos tucanos, que defendem a redução da alíquota e a partilha dos recursos com Estados e Municípios, em vez de pregar a extinção do tributo. Disse que aposta na negociação e que acredita que, ao final, governo e oposição possam chegar "a uma posição de equilíbrio". Aécio deixou o Planalto com uma advertência ao governo: "A aprovação da PEC não é um ato de vontade unilateral. A CPMF terá de passar por uma negociação no Senado". Na avaliação de um dirigente nacional do PSDB, no entanto, a manifestação do governador não passa da retórica. O parlamentar afirma que, exatamente por conta dos empréstimos pendentes, nem ele nem Serra têm qualquer interesse de criar um impasse com o governo. Ao contrário. Mais do que para o governador de Minas, que já consolidou uma imagem de administrador eficiente e se reelegeu com alto índice de aprovação, é para o recém eleito José Serra que o dinheiro do Bird é fundamental. É com estes recursos que o governador paulista conta para fazer obras de grande impacto, como a ampliação do metrô e a compra de trens mais rápidos, que possam ser apresentadas ao eleitorado nacional na disputa pela sucessão do presidente Lula. Pressão dos governadores A despeito da pressão dos governadores, líderes do PSDB na Câmara e no Senado avaliam que, pela primeira vez, a tradição de o PSDB atuar no Congresso em sintonia plena com os governadores do partido está por um fio. "Desta vez, nós estamos dispostos a peitar o governo, a despeito dos riscos que existirem, e nós sabemos que existem", diz um tucano de expressão, identificado como integrante do grupo serrista. "Os governadores já foram prevenidos de que, se o governo não negociar em nada, votaremos contra, e tudo bem", completou o parlamentar. Foi este o sinal claro emitido pela maioria da bancada do PSDB no Senado, que se reuniu na noite de terça-feira a assessoria técnica e o presidente da Fiesp, Paulo Scaf, para discutir a questão. "Prorrogar a CPMF do jeito que está eu não aceito. Ou se reduz a alíquota e partilha os recursos com os Estados e Municípios, ou se acaba com a CPMF", advertiu o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), antes mesmo de a reunião começar. "Minha posição é definitiva, muito clara e muito consciente, e eu vou usar minha liderança na presidência do PSDB para convencer a bancada a fechar questão em torno disso", completou. Estratégia A estratégia no Senado será a de esticar a corda, obstruindo a votação ao máximo, para forçar a base governista a negociar. "O tempo é nosso maior aliado", diz o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). "Uma parcela grande da nossa bancada de senadores está convencida de que deixar o governo seguir em frente com o excesso de arrecadação que já colheu e mais R$ 36 bilhões de CPMF é produzir uma bolsa eleição para nos derrotar em 2010", argumenta Guerra.

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