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Lula sugere incomodar deputados em casa e aliados de Bolsonaro falam em se armar

Em evento da CUT, Lula sugeriu 'mapear endereços' dos parlamentares para fazer pressão por pautas de interesse dos sindicatos; aliados de Bolsonaro reagem prometendo pegar em armas

Foto do author Davi Medeiros
Foto do author Natália Santos
Por Davi Medeiros e Natália Santos
Atualização:

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugeriu, durante um evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que seus apoiadores mapeassem o endereço dos parlamentares para “incomodar a tranquilidade deles”, pressionando-os com demandas. A declaração gerou forte repercussão entre deputados bolsonaristas e, ao menos dois deles, chegaram a afirmar que pegariam armas de fogo contra o petista e seus apoiadores. 

“Fazer ato público na frente do Congresso Nacional não move uma pestana de um deputado”, disse Lula, na noite de segunda-feira. “Deputado tem casa. Eles moram em uma cidade, nessa cidade tem sindicalista (...). Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas até a casa dele, não é para xingar, mas para conversar com ele, conversar com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele. Eu acho que surte muito mais efeito.”  

"Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas até a casa dele, não é para xingar, mas para conversar com ele, conversar com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele. Eu acho que surte muito mais efeito”, disse o petista. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Após a declaração, o deputado Junio Amaral (PL-MG), que é policial militar reformado, publicou um vídeo empunhando uma pistola. Ele afirma, ironicamente, que iria aguardar a “turma” do petista chegar em sua casa. “Serão muito bem-vindos”, disse ele, enquanto carrega a arma. 

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A deputada Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que, em sua casa, vigora a “legítima defesa”. Segundo ela, os militantes da esquerda “sempre foram muito violentos”, citando episódios em que grupos invadiram a Bolsa de Valores e igrejas. “Meu lar é inviolável, minha família é sagrada. Então, digo uma coisa para vocês: na minha casa tem pistola”, disse Carla Zambelli. 

Ela completou, dirigindo-se à mãe, que aparece no fundo do vídeo: “Olha, mãe, se vier vagabundo aqui, a senhora está autorizada a pegar a pistola e meter chumbo”. A deputada prometeu denunciar o ex-presidente no Ministério Público por suposta incitação ao crime. 

O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) chamou de “criminosa” a declaração de Lula. Ele cobrou reação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o episódio. “Também me questiono se, nesse caso, o ministro Alexandre de Moraes pedirá a prisão do ex-presidiário Lula por essa ameaça ao Parlamento”, afirmou. 

O deputado Luiz Lima (PL-RJ) comparou Lula ao boliviano Evo Morales  e disse: "Se o Bolsonaro falasse o que o Lula falou …seria massacrado, de ditador, autoritário, pra baixo!". 

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Dirigente do Cidadania, Roberto Freire classificou a sugestão do ex-presidente como "absurda" e "fascista". "Declaração absurda essa de Lula mandar militantes pressionarem famílias de deputados que por acaso não sejam do seu agrado. Atitude fascista inadmissível numa democracia", publicou.

Lula e Gleisi Hoffmann, presidente do PT, não comentaram. O partido, porém, entrou com uma representação no Conselho de Ética da Câmara contra Junio Amaral, na qual pede a abertura de processo ético disciplinarpor quebra de decoro. A legenda afirma que a reação foi “desproporcional, autoritária, odiosa”, e atribui ao deputadotrês crimes: ameaça, incitação ao crime e apologia de crime ou criminoso. 

“O representado responde à fala do presidente Lula fazendo expressa ameaça, consistente em receber, tanto o presidente, quanto eventuais cidadãos (manifestantes), com uma arma de fogo totalmente carregada, a indicar que poderia matá-los ou lesioná-los, de forma grave”, diz o texto.

Para o partido, a declaração do ex-presidente foi democrática. “Na perspectiva de buscar, junto aos representantes populares – que devem prestar contas de suas ações a seus eleitores – um canal de diálogo mais próximo e que permita, sem intermediários, apresentar as variadas e necessárias demandas trabalhistas, sociais e políticas, muitas vezes deixadas de lado pelo Parlamento.”

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