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Lula homenageia Almirante Negro

Já Marinha ignora inauguração de estátua de João Cândido no centro do Rio

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Por Wilson Tosta
Atualização:

Em solenidade sem representantes da Marinha e do Ministério da Defesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reinaugurou ontem no Rio, à beira-mar, a estátua do marinheiro negro João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata. Lula comparou o homenageado a outros personagens da história brasileira que enfrentaram militares- o beato Antônio Conselheiro, líder de Canudos, no início da República; Gregório Bezerra, comunista torturado em 1964; e o guerrilheiro Carlos Marighela, morto em 1969 - e disse que os brasileiros "precisam aprender a transformar seus mortos em heróis". Na cerimônia, João Cândido foi chamado de "almirante", embora a Marinha o considere chefe de um motim contra a hierarquia. "Não sei quantos brasileiros hoje teriam coragem de se rebelar contra seus comandantes", afirmou Lula, diante de representantes de movimentos contra o racismo e do público que comemorava o Dia Nacional da Consciência Negra. Devido a resistências da Marinha, a estátua levou anos para chegar à Praça XV, no centro do Rio. Antes, ficou no Museu da República. Ocorrida em 1910, a Revolta da Chibata foi um levante de marinheiros, a maioria negros, contra castigos com chicote que lhes eram impingidos por oficiais. Os revoltosos dispararam canhões contra o Rio. Seis pessoas morreram. Preso e expulso, João Cândido morreu em 1969. Só em 24 de julho passado foi anistiado, graças a projeto da senadora Marina Silva (PT-AC) aprovado pelo Congresso e sancionado por Lula. O episódio é tema da música O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc. Em seu discurso, o presidente afirmou que João Cândido era um "homem negro que foi perseguido por ter consciência política". "Finalmente, João Cândido virou cidadão brasileiro, livre de preconceito." Lula exaltou a mistura de raças que formou o povo brasileiro e destacou a importância da eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos. O presidente afirmou que seu futuro colega americano deve pensar como ele pensava ao assumir, em 2003, quando se convenceu de que, se falhasse, os trabalhadores seriam responsabilizados. "O Obama tem que entrar e dizer: Tenho que recuperar a economia americana, senão vão jogar esse desastre dos brancos em cima dos negros", afirmou Lula.

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