Lula fora da eleição pode tirar votos de Bolsonaro, diz cientista político

Para analista da Hold Assessoria Legislativa, com ex-presidente fora da disputa, eleitor refratário a ele pode reavaliar outras opções que não o deputado

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Por André Ítalo Rocha
Atualização:

Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguir disputar a eleição presidencial deste ano, em razão de uma possível condenação em segunda instância na Justiça, isso poderá enfraquecer a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), afirmou ao Broadcast Político o cientista político André César, consultor da Hold Assessoria Legislativa. 

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Para ele, aqueles que votam em Bolsonaro porque rejeitam Lula poderão analisar as outras opções com mais calma caso o petista esteja fora da disputa. Confira os principais trechos da entrevista:

Qual a chance de o deputado Jair Bolsonaro chegar ao segundo turno na eleição para presidente?É limitada a força do Bolsonaro. Primeiro porque é uma candidatura pequena, que terá pouco tempo de propaganda no rádio e na TV. E o teto dele é baixo, porque a rejeição é grande, então, será muito complicado para ele um eventual segundo turno. O que é possível, inclusive, é que ele nem seja candidato a presidente, se ele sentir que será uma empreitada muito difícil, ao mesmo tempo em que tem uma reeleição garantida para a Câmara. Ele pode até tentar o Senado. Tudo, por enquanto, está no plano da especulação e, no caso dele, isso é bastante claro. Ele sabe também que tem limitações como homem público, com as cascas de bananas que estão sendo jogadas para ele pela imprensa.

Integrantes de movimentos sociais acampampara acompanhar o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Anfiteatro do Pôr do Sol em Porto Alegre Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Mas candidaturas com pouco tempo de rádio e TV vão apostar nas redes sociais. O rádio e a TV vão continuar mais importantes que as redes sociais? As redes sociais estão crescendo. Ainda não temos no Brasil um estudo mais aprofundado ou mais relevante sobre o tema. De fato, sabemos que estão aumentando o acesso, a audiência e a penetração do cidadão às redes sociais. As redes sociais terão mais importância, mas, no limite, TV e rádio são muito importantes. E outra coisa: quem assiste programa eleitoral, vê o começo e o final. Vão ver os primeiros dias e depois, para definição do voto, os últimos dias de campanha. E o Bolsonaro não terá tempo de passar sua mensagem. 

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Como uma possível condenação de Lula pode afetar a chance de outros candidatos? Essa é uma grande incógnita. O que se sabe é que muitas pessoas que votam no Bolsonaro são pessoas que não querem de jeito nenhum que o Lula volte. Com o Lula fora da disputa, pode ser que esses eleitores repensem o voto dele, analisando com mais calma as demais candidaturas. Outro efeito é que outras candidaturas de esquerda podem ter algum ganho com a saída de Lula, como a do Ciro Gomes.

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Jair Bolsonaro é contra Reforma da Previdência proposta por Temer Foto: Dida Sampaio/Estadão

Essa será uma eleição em que a conjuntura estará mais favorável a discursos radicais? Estamos vendo hoje o discurso da antipolítica ou da nova política. Esses movimentos que estão surgindo, como Renova Brasil, Livres e o Novo, não foram inventados aqui e já estavam ocorrendo antes na Europa. E aqui as crises políticas recorrentes, do mensalão ao petrolão, estão cansando o cidadão comum, porque ele tem a sensação de que a política virou polícia. Mas esse discurso de nova política tem de ser bem calibrado na campanha, porque você pode colocar tudo a perder enquanto proposta.

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