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Lula fala de biocombustíveis em visita oficial à Indonésia

'O etanol da produção de biocombustíveis não é o vilão que ameaça a segurança alimentar', disse Lula

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Por Redação
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou neste sábado, 12, em sua primeira visita oficial a Jacarta, estreitar os laços entre Brasil e Indonésia. A viagem de Lula à Indonésia, dentro de uma viagem asiática para aumentar a presença brasileira na Ásia, deu especial ênfase às possibilidades dos biocombustíveis, um campo no qual os dois países são potências mundiais.   "Os países em vias de desenvolvimento com as características da Indonésia e do Brasil não deveriam analisar esta crise só como um problema", disse Lula, em entrevista coletiva, após seu encontro com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono. "Temos que ver este momento como uma grande oportunidade", acrescentou o presidente brasileiro.   A produção de biocombustíveis não é, de forma alguma, responsável pela disparada dos preços dos alimentos no mundo, disse Lula em Jacarta. Ele sugeriu como solução ao problema que sejam dados incentivos aos países em desenvolvimento para que cultivem alimentos.   "O etanol da produção de biocombustíveis não é o vilão que ameaça a segurança alimentar", disse Lula na Indonésia, após conversar com o presidente Susilo Bambang Yudhoyono. O Brasil e a Indonésia são grandes produtores de cultivos utilizados na geração de biocombustíveis.   Lula afirmou que a especulação é a causa principal da atual crise e disse que a China também é injustamente acusada. Ele propôs a distribuição de incentivos entre países pobres para que elevem a produção de alimento de forma a reduzir os preços. Ele não deu detalhes.   A Indonésia espera que a produção de biocombustíveis, sobretudo de óleo de palma, seja o pilar de seu desenvolvimento econômico. Milhões de dólares foram investidos por empresas locais e estrangeiras em novas plantações e fábricas processadoras. Yudhoyono disse que o governo enviará ao Brasil um grupo de especialistas para ampliar seus conhecimentos sobre a produção de biocombustíveis.   Os combustíveis elaborados com cana-de-açúcar, milho e outras plantações são considerados como uma alternativa para enfrentar a mudança climática e os altos preços del petróleo. No ano passado, a União Européia (UE) aprovou um plano para que os biocombustíveis representem 10% dos combustíveis dos veículos em 2020.   Ativistas ambientalistas, grupos internacionais e alguns países têm dúvidas sobre os benefícios dos chamados "combustíveis verdes", pois temem que se acelere o aquecimento global com o desflorestamento para abrir novas áreas de cultivo. Teme-se também o encarecimento dos produtos por causa da ocupação das terras destinadas à produção de alimentos.   Lula destacou a assinatura de um acordo pelo qual os dois países se comprometem "a fomentar a cooperação mútua para o desenvolvimento de técnicas de produção de etanol", do qual o Brasil é um dos maiores produtores mundiais.   Susilo Bambang Yudhoyono disse à imprensa que a Indonésia enviará ao Brasil um grupo de especialistas para estudar o modelo de produção de etanol do país latino-americano.   Fontes diplomáticas brasileiras disseram à Agência Efe "que não se trata de um acordo comercial", mas "de caráter científico", pois seu fim "é aprofundar os intercâmbios de pesquisadores, publicações e conhecimento".   O acordo incide na importância da "transferência de conhecimento" entre equipes de pesquisa dos dois países no contexto global atual, que inclui a necessidade de "reduzir as emissões que provocam o efeito estufa" e de "promover o desenvolvimento sustentável".   As questões ambientais, como a mudança climática e os problemas de desmatamento, estiveram também presentes na agenda deste encontro.   Além disso, Lula e Susilo assinaram um segundo acordo que pretende promover a cooperação entre instituições no campo da educação, com o objetivo de "aprofundar o entendimento entre os dois países".   Esta iniciativa inclui a formação e capacitação de professores e pesquisadores, a troca de informação e experiências, as comunicações entre equipes de pesquisa e o incentivo à produção científica.   Além disso, os dois chefes de Estado assinaram um protocolo para facilitar os trâmites alfandegários de seus respectivos representantes diplomáticos no outro país.   Lula aproveitou também sua visita a Jacarta para se reunir com o presidente da Assembléia Consultiva Popular, Hidayat Nur Wahid, e com o porta-voz do Parlamento da Indonésia, Agung Laksono.   Depois, o presidente brasileiro presidiu um encontro entre membros das câmaras de comércio de ambos os países, que buscava fomentar o comércio bilateral.   O volume de troca comercial entre os dois países alcançou em 2007 os US$ 1,47 bilhão (950 milhões de euros), um aumento de 155% em relação a 2003, mas ainda muito longe de seu nível potencial.   "É incompreensível que não tenhamos participação em um país de mais de 200 milhões de habitantes como a Indonésia", disse Lula recentemente, e afirmou que a oportunidade de o Brasil ocupar um espaço no mercado internacional prevê diversificar seus contatos e produtos.   Com sua visita à Indonésia, o presidente brasileiro deu hoje por finalizada a viagem asiática, que o levou também nos últimos dias ao Vietnã e ao Timor-Leste.   Lula esteve nestes países após sua participação na cúpula anual do Grupo dos Oito (G8, os sete países mais desenvolvidos e a Rússia) que aconteceu no início desta semana no Japão, e na qual, entre outros, se reuniu com o presidente americano, George W. Bush.   Energia   O Brasil não sofre nem sofrerá uma nova crise de energia, como a que viveu em 2001. A previsão partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ser interrogado neste sábado, 12, pela imprensa sobre a experiência brasileira e as soluções que poderiam ser empregadas pela Indonésia para contornar sua própria deficiência de fornecimento de eletricidade. Em visita oficial a Jacarta e ao lado do presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, Lula defendeu que seu governo realizou todos os investimentos necessários para evitar que a crise de 2001 se repita e insistiu que, na área energética, o Brasil é "quase um país sui generis".   "Nós não temos indícios de crise energética. Hoje, posso dizer que o Brasil não tem e não terá crise de energia em curto prazo", afirmou. "Tivemos apagão em 2001 porque não tínhamos as linhas de transmissão entre uma região com água e outra região sem água", completou, para logo acrescentar que seu governo realizou as obras de transmissão e de geração necessárias nos últimos cinco anos.   A questão abriu uma brecha para Lula expor os dados que traz na ponta da língua sobre o setor energético do País e para explorar a opção da Indonésia pela produção de etanol. Não chegou a mencionar a auto-suficiência de petróleo conquistada pelo Brasil em 2006 e que já está sob risco. Preferiu despejar os números relativos às energia de fontes renováveis - os fatos de 46% da energia do País ser considerada "limpa", de 85% da eletricidade ser gerada em hidrelétricas e outras fontes renováveis e de haver um potencial adicional de geração. Lula apontou ainda que 87% da produção brasileira de automóveis traz motores flex fluel e que toda a gasolina comercializada conta com a adição de 25% de álcool.   Ontem, o Brasil e a Indonésia, que produz etanol a partir da mandioca, assinaram um protocolo de intenção sobre cooperação técnica na área de biocombustíveis. Do ponto de vista do presidente Lula, trata-se de uma porta aberta para que os dois países trabalharem conjuntamente em prol da conversão do etanol em uma commodity e da produção sustentável. Em 2010, a Indonésia deverá iniciar a adição de álcool à gasolina, com o acréscimo de 2,5%. Questionado se o fato de a aliança com a Indonésia prejudicar mais do que ajudar na campanha brasileira pela difusão do uso do etanol, pelo fato de sua produção usar um alimento como matéria-prima, Lula defendeu que é preciso haver um mapeamento agroecológico para a produção.   "Cada país sabe que região e que tipo de coisa pode plantar. É muito difícil para um presidente dizer a outro país que ele não deve produzir etanol", afirmou.   Conselho de Segurança da ONU   A obsessão pela defesa dos biocombustíveis levou o presidente Luiz Inácio Lula Silva a suavizar a sua ênfase de seu governo a uma das principais bandeiras de política externa - a conquista de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Ontem, Lula não tocou no assunto durante sua conversa com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono. Ambos os países, na verdade, têm a mesma pretensão. A Indonésia, entretanto, não figura entre os aliados do Brasil, que preferiu formalizar uma proposta conjunta de reforma do Conselho de Segurança com o Japão, a Índia e a Alemanha.   "A Indonésia vai responder positivamente e de forma compreensiva à candidatura do Brasil", afirmou o presidente Susilo, pouco depois de ter destacado que, como maior país muçulmano do mundo, a Indonésia também poderia figurar entre os futuros membros permanentes. "O Brasil está convencido que a ONU precisa se modernizar, se democratizar e abrir o Conselho de Segurança para que a nova realidade política, econômica e social seja expressa", insistiu Lula.   Ao final de seus cinco dias de viagem pelo Japão, Vietnã, Timor Leste e Indonésia, o presidente Lula exibia claros sinais de cansaço. Pela manhã, ao desembarcar de uma limusine no Palácio Merdeka, a sede do governo indonésio, reclamou do calor de 32º com alta umidade. "Aqui está mais quente que no Nordeste", disparou ao estender a mão ao presidente Susilo. No início da tarde, no encerramento do Encontro Empresarial Brasil-Indonésia, Lula entornou um copo de água e, ao encaminhar-se para o púlpito de onde discursou, tropeçou no fio do fone de ouvido. "O primeiro investimento do empresariado é pagar a conta do estrago que eu fiz aqui", brincou.   (Com Denise Chrispim Marin, enviada especial do Estado)   Ampliada às 13h21

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