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Lula diz que nunca cedeu à tentação de furtar maçã

Presidente participou de formatura do ProJovem e discursou para os formandos

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Por Agencia Estado
Atualização:

"Pelo amor de Deus, não desanimem, vocês têm que acreditar, ser perseverantes", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao participar nesta sexta-feira, 30, em Olinda, Pernambuco, da formatura de 4,2 mil jovens que concluíram o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem). Para argumentar seu apelo aos jovens - que vivem situações adversas de pobreza, exclusão e violência - Lula contou uma história da sua infância, em São Paulo, quando cursava o admissão (equivalente nos dias de hoje ao fim do ensino fundamental). "Naquele tempo não tinha tanta maçã como tem hoje. Toda quinta-feira tinha uma feira e eu saía da escola e passava na banca de fruta, tinha maçã argentina, vermelha, gostosa, a minha boca enchia d´água, eu tinha vontade pegar uma maçã e sair correndo". Ele disse nunca ter cedido à tentação do furto, porque tinha vergonha que alguém o pegasse. Ele não queria fazer a mãe passar humilhação, "porque naquele tempo a gente tratava a família com mais carinho". O ProJovem é um programa de inclusão social atende a pessoas de 18 a 24 anos que terminaram a quarta série, mas não concluíram o ensino fundamental, e não têm emprego com carteira assinada. Inclui aulas do ensino fundamental, informática básica e língua inglesa, tem duração de um ano e dá uma bolsa mensal de R$ 100,00. Cuidado com os jovens Em um compromisso com os jovens - que aconselhou a tentar um relacionamento mais harmonioso com a família - o presidente disse que se não cuidar deles agora significa que o narcotráfico, o crime organizado, vai cuidar, "porque no desespero a gente aprende a fazer qualquer coisa". E instigou os governadores e prefeitos a manter o acompanhamento dos concluintes do programa. "Saber que vocês estão querendo continuar, querem entrar na escola técnica, na universidade, implica um desafio: a gente não pode virar as costas para vocês. Agora que receberam o diploma, aumenta a responsabilidade com vocês. Porque se a gente esquecer essa meninada, se a gente achar que já cumpriu obrigação, estaremos cometendo um erro. Esse diploma não é o fim, esse diploma é o começo de uma jornada". Aclamação O presidente foi aclamado pelos jovens que lotaram o espaço. Deu autógrafos nas camisas vermelhas do programa que eram jogadas no palco, pegou no colo um bebê de uma das moças, abraçou e beijou gente, numa tarefa em que contou com a assessoria direta dos governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) e de Sergipe, Marcelo Deda (PT). O ministro da Educação, Fernando Haddad, que integrou a comitiva, anunciou que mais 80 mil vagas serão criadas no ProJovem em todo o País. Atualmente são 164 mil vagas. Aos concluintes do programa, Lula discursou como um pai, um conselheiro. Citou a si próprio como um exemplo de perseverança a ser seguido pelos jovens, ao repetir sua história de retirante nordestino que chegou à presidência da República. Sem deixar de reconhecer que muitos dos jovens ali presentes vivem situações mais adversas que as vividas por ele. "Hoje tem mais violência, menos espaço". O presidente Lula voltou a se posicionar contra a maioridade penal para menores de 18 anos, por não ser solução para o problema da juventude brasileira. Frisou a falta de apoio e de cuidado com os jovens pela família, pela sociedade, pelo Estado e defendeu investimento na educação. "Quando o governo é sovina com educação, vai ter que gastar mais pagando soldado e construindo cadeia". Dupla de rap Em total sintonia com o presidente, os jovens cantaram rap, dançaram capoeira, declamaram poesias. Uma dupla de rap, Niélson de Lima e Sainclair Celestino, cantou: "Basta de droga, basta de guerra, pois a droga traz a morte e você é que se ferra". Para exemplificar um outro dado citado pelo presidente de que 30% das meninas entre 15 e 17 anos abandonam os estudos porque ficam grávidas, Mariana Barbosa, 23 anos, concluindo o ProJovem, disse ter largado a escola na sétima série por este motivo. Passou sete anos afastada, tendo de se virar para criar o filho. A bolsa de R$ 100,00 a estimulou. Fez curso de cozinha e etiqueta na cozinha e está cursando o segundo grau. Faz faxina e tem ajuda de R$ 30,00 do Bolsa-Família. Mora no bairro de Santo Amaro, na capital, onde os índices de violência são altos. Perto da sua casa, três jovens foram baleados nesta semana na guerra do tráfico. Protesto O único protesto registrado no evento partiu de professores concursados que reclamaram do governador Eduardo Campos a sua não-contratação. Segundo eles, há mais de cinco mil concursados à espera, enquanto sete mil professores do Estado são temporários. O concurso é válido até março de 2008.

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