Lula diz que é preciso desmontar os mecanismos perversos da economia

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao relançar nesta segunda-feira a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), extinta em 2001 no rastro de uma avalanche de denúncias de corrupção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o que chamou de "visão economicista" no planejamento estratégico do País e, mais uma vez, pediu paciência à população para a retomada do crescimento. Sentado ao lado de oito governadores, Lula disse que é preciso desmontar o "mecanismo perverso" da distribuição de renda desigual e condenou a guerra fiscal entre os Estados, considerada por ele como "predatória". Mais: garantiu que, em seu governo, a política vai se sobrepor à economia. "Nessa máquina de moer esperanças, o acelerador da riqueza tem ao mesmo tempo acionado o freio da distribuição de renda", afirmou o presidente, na sede do Banco do Nordeste (BNB). "É preciso desmontar esse mecanismo perverso que se torna uma armadilha contra a própria sociedade." Para uma platéia formada por ministros, empresários e políticos, Lula disse ter certeza de que o País reencontrará o rumo do desenvolvimento com justiça social. include "$DOCUMENT_ROOT/ext/eleicoes2002/governolula/ticker.inc"; ?>Em seu discurso, ele condenou a "visão economicista" ao fazer coro com o economista Celso Furtado, o idealizador da Sudene, em 1959. Também sentado à mesa, Furtado criticara, pouco antes, a "obsessão economicista" que marcou os últimos governos. Argumentou, então, que Lula estava no caminho certo. Sem citar a onda de invasões e violência dos últimos dias, Furtado foi taxativo: "O México conheceu uma convulsão social e nós confiamos na liderança de Vossa Excelência em realizar mudanças sem passar por uma convulsão". Elogios de Furtado Com 83 anos, o economista leu com dificuldade um texto elogioso a Lula e disse que a administração petista não se subordina eteses doutrinárias. "Seu governo já demonstrou que os desafios são políticos, e não econômicos", afirmou. "A estratégia do Fundo Monetário Internacional (FMI) é prolongar a recessão até que o paciente aceite o ?currency board? ou a dolarização da sua economia, o que é tremendamente perigoso para a manutenção da soberania nacional." Foi então que o presidente resolveu incluir em seu discurso um grande trecho de improviso, para falar da sua esperança na retomada do desenvolvimento. "Uma visão eminentemente economicista da administração de um país do tamanho do Brasil pode ser um equívoco, porque a política, efetivamente, é que tem de determinar os passos que vamos dar", disse Lula. O presidente afirmou ter consciência de que "as coisas são difíceis". "Sabíamos disso antes, durante e depois", ressaltou. No discurso, o presidente não mencionou em nenhum momento a preocupação com as invasões e o clima de estagnação do País, mas comentou o assunto indiretamente ao falar sobre o noticiário da imprensa. "Toda vez que vejo o pessimismo estampado em matéria de jornal ou programa de TV, vou para casa dormir com a certeza de que vamos provar que a história deste País será diferente", insistiu. "A gente vai voltar a crescer, vai gerar os empregos necessários e fazer as obras que são prioritárias." Fiel ao seu estilo de falar por metáforas, Lula comparou o crescimento com a construção de uma laje, que não pode ser construída com pressa para não desmoronar. Disse que, quando era sindicalista e morava em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ajudava os amigos na hora de folga. "A gente trabalhava com muito mais solidariedade. Chegávamos lá, dez, 15 companheiros, colocávamos uma laje numa casa. E todo mundo sabe que, para colocar uma laje, o madeiramento tem que ser firme, tem que esperar secar", comentou. O presidente lembrou que tinha "um companheiro apressado", que se deu mal. "Fomos encher a laje dele, ele queria casar, tirou na semana seguinte o madeiramento e a laje caiu na cabeça dele". Moral da história, na versão do presidente: "Para a gente construir um projeto mais sólido, precisamos ter a sustentação forte." Guerra Fiscal Na cerimônia, Lula defendeu o relançamento da Sudene com a alegação de que as instituições, em si, não são corruptas. "Na nossa cabeça, se tiver numa instituição alguém que roube, ao invés de fechar a instituição, é preciso fechar o ladrão na cadeia", destacou. "Estamos, na prática, substituindo a guerra fiscal predatória e autodestrutiva por uma verdadeira política de desenvolvimento regional." O presidente elogiou o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, pasta à qual a Sudene é subordinada. "O que ele fez foi apenas uma demonstração do que ele está fazendo no meu governo: trabalhar, trabalhar e trabalhar, com a obstinação de servir o País e o povo brasileiro", disse. Ao chegar ao Banco do Nordeste, Lula foi obrigado a entrar por trás porque uma manifestação de aproximadamente 50 servidores públicos contrários à reforma da Previdência praticamente bloqueava a passagem. Cerca de 60 policiais da tropa de choque, munidos de balas de borracha, faziam um cordão de isolamento no local. Uma das faixas, assinada pela Liga Bolchevique Internacionalista, dizia "Abaixo as emendas neoliberais do governo burguês Lula/FMI".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.