Lula diz a Temer que Supremo está 'acovardado'

Em encontro no Hospital Sírio Libanês, ex-presidente falou sobre reação do STF diante das investigações da Lava Jato; ele repetiu expressão usada em conversa com Dilma Rousseff

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Por Tania Monteiro e Vera Rosa
Atualização:
Michel Temer e o ex-presidente Lula Foto: Divulgação/Beto Barata

BRASÍLIA - Em encontro na noite de quinta-feira, 2, no Hospital Sírio Libanês, onde a ex-primeira-dama Marisa Letícia está internada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ao presidente Michel Temer e a ministros, senadores e deputados que o Supremo Tribunal Federal (STF) está "acovardado" diante das investigações da Operação Lava Jato. Mesmo sem citar o juiz Sérgio Moro, Lula não deixou dúvidas sobre quem estava falando.

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O ex-presidente afirmou que as instituições estão desacreditadas e que o País passa por um momento muito difícil. Apesar de defender o diálogo, disse que as divergências políticas ainda são um obstáculo para o entendimento. Mais cedo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já tinha estado no hospital para prestar solidariedade a Lula.

Ao observar que o Supremo estava acovardado, Lula repetiu expressão usada em uma conversa por telefone com a ex-presidente Dilma Rousseff, em março do ano passado, após ser levado coercitivamente para depor, pela Polícia Federal. No diálogo, que acabou vazado, o ex-presidente afirmou que estava assustado com a "República de Curitiba".

Na noite de quinta-feira, Temer mais ouviu do que falou. Lula disse concordar com mudanças na Previdência, sob a alegação de que, se nada for feito agora, haverá uma reforma a cada geração. Diante do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, porém, ele cobrou a redução dos juros.

"Não dá para ficar com juros de 8% ao mês no cartão de crédito", afirmou ele. "Eu vivia falando: Guido, esses juros têm de baixar", emendou, numa referência a Guido Mantega, ministro da Fazenda em seu governo. A resposta foi curta. "Nós estamos fazendo isso", observou o presidente. "Reduzimos os juros."

Temer chegou ao Sírio Libanês por volta das 22h30. Ficou muito aborrecido com as hostilidades e xingamentos de militantes petistas, não previstos por sua segurança.

Temer chega ao Hospital Sírio-Libanês; presidente foi hostilizado Foto: JF Diorio/Estadão

Na sala de visitas do hospital, ao lado de Temer, figuravam vários políticos citados na Lava Jato. De um lado estavam sentados Lula, Temer, o ex-presidente José Sarney e Meirelles. Do outro lado, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), eleito presidente do Senado.

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A maioria dos presentes ficou de pé e Lula não foi interrompido. Estavam lá, ainda, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), José Serra (Relações Exteriores), Helder Barbalho (Integração) e Dyogo Oliveira (Planejamento). O petista Jaques Wagner, que foi titular da Casa Civil no governo Dilma Rousseff, também ouviu o discurso de Lula.

A conversa com Temer, como de costume cerimonioso, terminou em tom cordial. Os ministros, senadores e deputados que acompanharam Temer seguiram para São Paulo no avião presidencial de reserva, já que o Airbus está em manutenção. A viagem foi tão concorrida que a aeronave não tinha lugar vago. Todos chegaram a Brasília de volta na madrugada desta sexta-feira, 3.