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Lula defende zona de comércio entre Mercosul e CAN

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, em discurso na abertura da 14a reunião de cúpula da Comunidade Andina de Nações (CAN), nesta sexta-feira à noite, que pretende estabelecer uma zona de livre comércio mais ambiciosa entre esse bloco e o Mercosul até o final de 2003, que envolva também a integração de cadeias produtivas e a mobilização conjunta desses países diante dos organismos financeiros internacionais. Mas igualmente acentuou que o acerto fechado nas últimas semanas entre Brasil e Estados Unidos, os co-presidentes da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), somente permitirá a conclusão das negociações se o governo americano efetivamente abrir seu mercado a produtos de interesse da região. "Assinalo nosso compromisso de conformar, até o final de 2003, uma zona de livre comércio entre os países da Comunidade Andina e do Mercosul", enfatizou o presidente, sem acrescentar as dificuldades implícitas nessa mesma negociação. "É preciso ir além da discussão sobre aspectos tarifários. É imperativo criarmos condições para a implementação de políticas que favoreçam nossa integração produtiva. Uma ação coesa dos dois blocos será capaz de mobilizar recursos junto aos organismos financeiros para o desenvolvimento da nossa América do Sul", completou. De certa forma, Lula tentou em seu discurso dissipar temores dos países andinos de que o novo governo brasileiro viesse a obstruir completamente as negociações da Alca. Desde que as discussões começaram de fato, em 1998, a CAN vem se mostrando bem mais interessada no acordo que o Mercosul, que as levou com cautela. Lula destacou que defende o enfoque "pragmático" ? expressão de autoria do representante para o Comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick para o acerto fechado com o Brasil há duas semanas - que garantirá mais liberdade para os 34 parceiros fazerem concessões bilaterais. Entretanto, insinuou que o compromisso de concluir as negociações da Alca até 2005 pode ruir se "os nossos amigos americanos não se mostrarem realmente dispostos a abrir seu mercado a produtos de interesse do Brasil e de seus sócios. "É preciso, em primeiro lugar, que haja efetiva disposição dos Estados Unidos, que é a economia mais poderosa, de abrir seu mercado e retirar entraves de todo tipo aos produtos de nosso interesse prioritário, como os agrícolas, o aço, os têxteis, entre outros" enfatizou. "De pouco adianta termos 80% ou mesmo 90% dos itens liberalizados, se nos 20% ou 10% que ficarem de fora (definitivamente ou por prazo indeterminado) estiverem aqueles que justamente se concentra o nosso interesse." Diante dos presidentes Gonzalo Sánchez de Lozada, da Bolívia, Álvaro Uribe, da Colômbia, e Lúcio Gutiérrez, do Equador, e do vice-presidente do Peru, Raúl Díez Cancero, Lula voltou a defender a tese de que seus compromissos para com a integração comercial e física sul-americana não são apenas "um discurso retórico". Como forma de enfatizar essa posição, lembrou que está marcada para a próxima semana uma reunião em Caracas, na Venezuela, para tratar dos projetos comuns de infra-estrutura, traçados desde 2000 e retomados por seu governo. Também mencionou a realização de um seminário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em agosto, no Rio de Janeiro, para tratar do financiamento desses mesmos projetos obras. Com seu aval, o BNDES comprometeu-se a financiar obras e exportações de três países da CAN ? a Venezuela, o Peru e a Bolívia. Assim como o fez em Washington, onde se encontrou com o presidente americano, George W. Bush, no último dia 20, o presidente brasileiro retomou sua observação de que os países sul-americanos devem buscar "soluções próprias para problemas e circunstâncias comuns". Mas destacou que deixara claro a Bush que o projeto de integração física da América do Sul dependerá de recursos hoje não disponíveis nos países envolvidos e que poderá interessar a empresas americanas. Lembrou ainda que a região deverá investir no desenvolvimento e na justiça social se quiser uma "América do Sul pacífica e politicamente estável". "Não podemos esperar que o mercado resolva todos os nossos problemas."

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