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Lula defende Vaccari e compara Lava Jato a julgamento do mensalão

Em reunião com dirigentes do partido, ex-presidente diz que arrecadação de recursos é regular e pede que a legenda reaja às acusações para não ser submetido a novo 'julgamento político'

Por Ricardo Galhardo , Ricardo Della Coletta e Marcelo Portela
Atualização:

Atualizado às 16h33

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Belo Horizonte - Em sua primeira participação numa reunião do Diretório Nacional do PT desde que o partido chegou ao governo federal, em 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo relatos ao Estado, defendeu o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, e comparou as denúncias investigadas pela Operação Lava Jato ao episódio do mensalão. Para o petista, há uma tentativa de "criminalizar" a legenda. "Na dúvida, eu fico com o companheiro", afirmou.

Lula está na capital mineira, onde nesta noite ocorre a festa de aniversário de 35 anos do PT. Vaccari, que nessa quinta-feira, 5, foi levado à Polícia Federal para prestar depoimentos no âmbito da Lava Jato, também participa do evento. O tesoureiro é investigado por suspeitas de intermediar a arrecadação de propinas ao PT por meio de um esquema de corrupção e de cartel na Petrobrás.

De acordo com participantes da reunião, fechada à imprensa, Lula disse que existe uma tentativa de criminalizar a legenda e conclamou o PT a reagir, sob o risco de o Judiciário "julgar [os crimes investigados pela Operação Lava Jato] pela pressão que se cria na sociedade e não pela lei". "Descobri lamentavelmente no mensalão que o julgamento não é jurídico, é político", disse o ex-presidente, segundo relatos.

As informações de que propinas abasteceram o partido foram feitas pelo ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco em delação premiada aos investigadores da Lava Jato. Segundo ele, o partido arrecadou, por intermédio de Vaccari, até US$ 200 milhões a partir do esquema de desvios envolvendo contratos da estatal.

Ex-presidente Lula sai em defesa do tesoureiro Vaccari Neto, um dos interrogados pela Polícia Federal na nona fase da Operação Lava Jato Foto: André Dusek/Estadão

Aos presentes, Lula defendeu o sistema de arrecadação de recursos para o partido e atacou Barusco, a quem se referiu como "bandido". "O PT arrecadou, sim, mas arrecadou legalmente. Os outros partidos também arrecadaram mas deles ninguém fala. Existe uma articulação para criminalizar o PT", disse.

Lula teria dito ainda que, se houver qualquer desvio financeiro registrado no CPF de qualquer "companheiro", a pena será a expulsão. O petista, no entanto, pondera que as acusações precisam ser comprovadas.

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Na mesma reunião, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), também dirigiu parte do seu discurso para defender Vaccari. Aplaudido diversas vezes em sua fala, Pimentel também recebeu aplausos quando pediu solidariedade ao tesoureiro.

Imprensa. O ex-presidente voltou a reclamar da cobertura feita pela imprensa sobre a Lava Jato. De acordo com ele, embora Pedro Barusco tenha admitido que o esquema de propinas na estatal começou em 1997, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), apenas os casos envolvendo gestões petistas foram destacadas. "Dos outros partidos ninguém fala", afirmou. 

O ex-presidente ainda deve discursar nesta noite durante a festa do PT, ao lado da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica. 

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Contas. Um informe elaborado por Vaccari foi apresentado durante o encontro. No texto, ele falou sobre as finanças do partido e estimou que a legenda vai perder R$ 10 milhões ao ano em receita por causa da diminuição da fatia do Fundo Partidário a que o partido tem direito. A previsão de queda do recurso, repassado pela União a todas os partidos, é menor em razão da diminuição da bancada na Câmara e do aumento do número de siglas no País.

No informe, Vaccari sugeriu que o PT terá que "apertar o cinto". A economia inclusive começou já nos festejos do partido, já que alguns dirigentes viajaram de carro para até Belo Horizonte porque o partido alegou não ter dinheiro para pagar passagens aéreas.

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