Lula defende revisão do Consenso de Washington

Presidente diz que crise é oportunidade para criação de novo 'consenso'.

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Por Fernanda Nidecker
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira a criação de um novo Consenso de Washington para resolver a crise financeira mundial. "Esta crise é uma oportunidade extraordinária para fazermos uma reflexão sobre tudo o que fizemos de errado a partir do Consenso de Washington e criarmos um novo consenso em que o ser humano, o trabalhador e a produção agrícola e industrial sejam a razão de ser da economia, e não a especulação financeira", disse Lula em um pronunciamento à imprensa durante sua viagem de Estado de quatro dias à Itália. O Consenso de Washington foi um termo cunhado pelo economista John Williamson, em 1989, que elaborou políticas neoliberais que foram aplicadas pelos Estados Unidos para lidar com os países da América Latina, em crise naquela época. O presidente afirmou que "neste momento os governantes precisam entender que é preciso ouvir menos analistas de mercado e mais analistas de problemas sociais, analistas de desenvolvimento e analistas que conheçam as questões humanas". Lula foi recebido na manhã desta segunda-feira pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano, em uma cerimônia no Palácio presidencial Quirinale. No pronunciamento conjunto, o presidente disse que sua visita à Itália ocorre em "momento de grave crise financeira internacional". "(Esta visita) oferece, portanto, a oportunidade para coordenar soluções com vistas à participação dos dois países na reunião do G20 em Washington, no dia 15". Lula disse estar convencido de que Itália e Brasil "têm importantes contribuições para redesenhar o sistema financeiro internacional". "Precisamos formar um outro (sistema financeiro), imune às aventuras do capitalismo especulativo, mais transparente, com regras e controle mais estritos, em benefício da sustentabilidade do crescimento e do desenvolvimento". Voz, vez e voto O presidente ainda defendeu a reformulação das instituições financeiras internacionais para atribuir mais "voz, vez e voto" aos países em desenvolvimento, sob a ameaça de não disporem dos mecanismos adequados para enfrentar a crise Lula disse que, no encontro que terá com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, nesta terça-feira, pretende retomar conversas sobre a ampliação do G8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia) para acomodar as economias emergentes, como o Brasil. "Não faz mais sentido que os grandes temas que afetam a humanidade sejam debatidos apenas pelos países ricos. A Itália, na presidência do G8, pode ter um papel crucial neste momento de transição que vive a ordem mundial." O presidente também disse que espera retomar conversas sobre as negociações para um acordo comercial entre União Européia e Mercosul. "Estou convencido de que podemos fechar a Rodada de Doha se houver vontade política", disse o presidente. Laços históricos Ambos os presidentes enfatizaram os laços históricos que ligam Brasil e Itália "Temos hoje no Brasil mais de 30 milhões de descendentes de italianos provenientes das mais variadas regiões deste país, que buscaram o Brasil como novo lar", disse Lula. "Este elo humano é o mais valioso dos patrimônios das relações entre Itália e Brasil". O presidente ainda ressaltou a importância do intercâmbio comercial entre os dois países, que nos últimos cinco anos dobrou, passando para US$ 8 bilhões. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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