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Lula chega à Índia em meio a divergência sobre Doha

Presidente deve discutir com premiê indiano vantagens econômicas de acordo.

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Por Fabrícia Peixoto
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à Índia nesta terça-feira com o objetivo de convencer o governo local de que, mais do que nunca, um acordo sobre a Rodada Doha de comércio é essencial para as duas economias. Lula participa na Índia de um encontro dentro da 3ª Cúpula do Ibas, grupo que reúne Brasil, Índia e África do Sul. É a primeira vez que o presidente Lula encontra o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, desde que as últimas negociações para implementação da Rodada Doha fracassaram, em julho. Na época, não houve acordo entre Índia e Estados Unidos sobre subsídios agrícolas. O Brasil, parceiro da Índia no G20 (grupo de países em desenvolvimento), acabou por defender a proposta americana, o que, para alguns, criou uma situação de mal-estar entre brasileiros e indianos. Lula pretende, no encontro desta quarta-feira, conversar com o primeiro-ministro indiano sobre as vantagens econômicas de um acordo comercial no âmbito da OMC, especialmente agora, em tempos de crise. De acordo com o Itamaraty, o governo brasileiro vai explorar a tese de que a conclusão da Rodada Doha "enviaria um forte sinal positivo de articulação da comunidade internacional e também ajudaria a minimizar os efeitos da crise financeira sobre a economia real". Na segunda-feira, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, teve um encontro de cinco horas com o ministro do Comércio e Indústria da Índia, Kamal Nath. Segundo o Itamaraty, os dois lados revisaram assuntos pendentes em agricultura e reafirmaram o compromisso de atingir um acordo até o final do ano. Para o economista Nagesh Kumar, ainda que os dois países estivessem preparados para um acordo comercial, haveria um outro obstáculo: as eleições americanas. "O pragmatismo tem certos limites", diz Kumar, que é diretor do Sistema de Pesquisa e Informação para Países em Desenvolvimento (RIA), centro de pesquisas sediado em Nova Déli. "É preciso reconhecer que as chances de um consenso são mínimas." Agenda indiana Os indianos, por sua vez, estão interessados em uma agenda mais estrita, que permita ampliar ainda mais suas exportações para o Brasil. "Para isso, precisamos aproveitar a chance e aprimorar a relação dos dois países em áreas específicas", disse o representante indiano. O objetivo é fortalecer os acordos de cooperação comercial e técnica entre os dois países. Nesse aspecto, o resultado tem sido positivo para os indianos. No primeiro semestre, o Brasil importou US$ 1,9 bilhão em produtos da Índia, número 116% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Já as exportações brasileiras equivalem à metade disso. Um dos principais interesses dos indianos é absorver a tecnologia brasileira em biocombustíveis, seja com acordos técnicos entre governos ou setor privado. Além de Doha, os três países que compõem o Ibas vão tratar da crise dos mercados e como podem contribuir em conjunto para minimizar seus efeitos. Segundo o Itamaraty, serão ainda assinados nove acordos de cooperação técnica em áreas como meio ambiente, turismo e igualdade de gênero. Já a África do Sul, que tem uma relação comercial deficitária com o Brasil, vem trabalhando para diversificar sua pauta de exportações. No ano passado, o país vendeu US$ 1,7 bilhão em produtos para o Brasil, sendo 25% no segmento de ferros-liga. A tentativa de ampliação da pauta inclui principalmente vinhos de maior valor agregado, autopeças e bens para a defesa nacional. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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