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Lula chama PT e PMDB e tenta ajustar palanques

Reunião em SP discute impasses nos Estados para costurar apoio a Dilma

Por Clarissa Oliveira
Atualização:

Menos de uma semana após o apoio do PT garantir o arquivamento das representações contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o PMDB começa a pagar a fatura do acordo. Durante um encontro em que reuniu líderes dos dois partidos em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu ontem os Estados nos quais quer ver solucionados impasses para costurar o apoio à candidatura presidencial da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Lula tomou a iniciativa de colocar o assunto em pauta e chamou o presidente licenciado do PMDB, Michel Temer (SP), para um almoço no escritório da Presidência, na capital paulista. À tarde, o encontro ganhou a presença do presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e dos líderes na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Tanto no almoço quanto na reunião ampliada, Lula disse esperar um empenho dos dois partidos para viabilizar um palanque forte para Dilma. A prioridade máxima é conseguir a união de forças em torno de um mesmo candidato e, apenas em último caso, trabalhar por palanques múltiplos para Dilma. Dizendo-se satisfeito com o andamento de algumas conversas, o presidente mencionou que teria avançado na negociação em Estados como o Paraná. Coube a Alves trazer ao encontro um mapa completo com o posicionamento das duas siglas nos Estados. Todos concordaram que a possibilidade de composição é praticamente zero em casos como o do Rio Grande do Sul, onde o plano caiu por terra após o ministro da Justiça, Tarso Genro, oficializar sua pré-candidatura ao governo. Também foi dada como "99% perdida" a aliança em Pernambuco e em Mato Grosso do Sul. A avaliação foi a mesma para São Paulo, onde o PMDB selou o apoio ao PSDB, como herança do acordo que ajudou a reeleger o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Por outro lado, a lista de Estados em que as dificuldades foram classificadas como "solucionáveis" inclui Rio de Janeiro e Pará. Ou ainda a Bahia, onde o Planalto tenta recolocar no mesmo palanque o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, após a ruptura da aliança selada em 2006. O encontro de ontem não foi o primeiro entre petistas e peemedebistas para tratar da união de 2010, mas nenhuma das reuniões anteriores foi tornada pública. Dessa vez, ela foi incluída na agenda presidencial e divulgada para a imprensa. Apesar de negarem que a crise do Senado tenha guiado as conversas, participantes reconheceram reservadamente que o encontro serviu como "um gesto de retribuição" do PMDB, diante do apoio petista a Sarney no Conselho de Ética. "A este assunto, por incrível que pareça, não houve sequer menção", declarou Berzoini, na saída do encontro. "O presidente nos convidou porque estávamos todos em São Paulo", emendou Temer, que antes da entrevista acertava com Berzoini, Vaccarezza e Alves o que todos deveriam dizer sobre o convite do presidente para a reunião. "Não há pacto nenhum em torno de crise no Senado, nada disso. Hoje a conversa mirou 2010, não mirou o passado", completou o peemedebista. Ontem, enquanto o encontro se desenrolava em São Paulo, parlamentares mencionavam em Brasília o preço do apoio a Sarney. "O PT salvou o PMDB no Senado e o custo foi bem alto", afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS), um dos que votaram pela absolvição. "O PT precisa dar prioridade à eleição de Dilma Rousseff à Presidência, em 2010", afirmou o deputado José Genoino (SP). "Para garantir palanques unificados nos Estados, tempo de TV e aliança ampla, o PT deve ceder a cabeça de chapa para o PMDB e outros partidos da coalizão governista onde não tiver candidato viável." Na avaliação de Genoino, "não existe esse negócio de preço alto". "Não podíamos permitir que nossos adversários transformassem o Senado num bunker da oposição".

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