Lula bota campanha na rua escancarando erros do governo; leia análise de Marcelo de Moraes

Por estratégia, no entanto, o petista preferiu não assumir abertamente a candidatura à Presidência em 2022

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Por Marcelo de Moraes
Atualização:

Com quase uma hora e meia de discurso em tom de campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sua volta ao cenário político nacional escancarando as falhas apresentadas pelo governo Bolsonaro, especialmente no combate à pandemia do coronavírus. Apesar do tom, Lula preferiu não assumir abertamente a candidatura para 2022. Mas é apenas estratégia. Porque o ex-presidente colocou o bloco na rua mirando a fragilidade administrativa demonstrada por Bolsonaro.

Com habilidade, Lula lembrou acertos de seu governo, deixando de lado os erros de administrações petistas. Dilma Rousseff, por exemplo, que acabou sofrendo impeachment em 2016, foi quase ignorada pelo ex-presidente, sendo citada apenas nas respostas aos jornalistas.

O ex-presidente Lula (PT) em entrevista coletiva em São Bernardo do Campo Foto: Werther Santana/Estadão

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Mas o petista fez uma leitura correta dos tempos atuais. Sabe que o adversário a ser batido é Jair Bolsonaro e procurou exibir, ao máximo possível, suas falhas. Usou até a caricatura, procurando colar no presidente o selo de terraplanista. Mas Lula acerta ao lembrar o drama das mortes provocadas pela pandemia e todos os erros do governo e do Ministério da Saúde. Acerta ao investir no problema social causado pelo encolhimento da economia e pela falta de emprego. 

O papel de vítima dos erros da Justiça e de Sérgio Moro é jogo jogado. Qual político que tivesse enfrentado essa situação não faria o mesmo? Mas Lula parece ter feito um discurso preocupado em mobilizar não apenas seus eleitores na esquerda. A ideia era mostrar que, no seu tempo, o País vivia uma situação muito mais vantajosa do que atualmente. E citou exemplos de olho no mercado. Como ao dizer que a indústria automotiva vendia quatro milhões de carros por ano e agora esse número caiu pela metade.

Ao colocar o papel de volta na arena eleitoral, Lula busca se cacifar como principal liderança de oposição. Mas sabe que também chamará para si os ataques dos bolsonaristas. Pegos de surpresa por sua volta ao jogo, eles ainda não sabem direito como farão esse enfrentamento, além da óbvia lembrança das denúncias por corrupção. Ainda falta um ano e sete meses para a eleição e, em política, isso equivale a um século. Mas Lula caminha para sua sexta campanha presidencial com uma largada mais forte do que Bolsonaro certamente imaginava.

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