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Lula atrasa reforma ministerial e acirra disputa pela PF

Na luta pelo posto de Paulo Lacerda, candidatos divulgam notas contra adversários

Por Agencia Estado
Atualização:

A demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fazer a reforma ministerial está alimentando a disputa pelo comando da Polícia Federal, um dos cargos mais cobiçados e estratégicos do governo. Enquanto não se define quem vai substituir o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a quem a PF está subordinada, os candidatos à sucessão do diretor-geral , Paulo Lacerda, reforçam a artilharia contra os adversários e reabrem feridas nas facções que tradicionalmente disputam poder no órgão. Há dois pretendentes em luta aberta e pelo menos quatro por fora. Lacerda, que queria uma transição civilizada, perdeu o pulso e virou alvo de torpedos da federação da categoria, a Fenapef, que entrou na briga para fazer o novo diretor. "Temos candidato e queremos ser ouvidos", diz uma nota distribuída pelo site da federação na internet. Na semana passada, foi necessária a intervenção do Conselho Superior de Polícia para baixar o tom da disputa e evitar o desgaste da instituição. O grupo que defende a candidatura do diretor de Inteligência da PF, Renato Porciúncula, passou à imprensa a informação de que, em 2003, o diretor-executivo, Zulmar Pimentel - outro forte candidato à vaga de Paulo Lacerda -, deu carona à filha, indevidamente, em um jatinho da corporação. Pimentel alegou que, naquele vôo, havia vagas sobrando no avião e que não houve desvio de rota nem novos custos para a corporação por causa da carona. Números O que está em jogo não é pouco. Com 13 mil policiais, entre os mais bem treinados do País, e um orçamento de mais de R$ 2 bilhões para este ano, a PF vive uma boa fase no governo Lula. Seu êxito no combate à corrupção e ao crime organizado, com 370 operações realizadas em quatro anos, foi usado como bandeira de campanha da reeleição do presidente. Os números da PF são gigantescos: a instituição tem 195 mil inquéritos em curso em todo o País contra todo tipo de contravenção - crimes ambientais, tráfico de drogas, corrupção e crimes do colarinho branco, entre outros. A PF tem entre seus desafios restabelecer a seriedade na fiscalização dos 15,7 mil quilômetros de fronteira do Brasil com os países vizinhos - uma imensa porteira aberta ao tráfico de drogas e de armas. O segredo do êxito da PF parece ser o entrosamento entre seu diretor e o ministro da Justiça, num nível poucas vezes observado na história da instituição. Bastos e Lacerda estavam em lados opostos no governo Fernando Collor, mas aprenderam a se respeitar. Como advogado criminal, Bastos defendia o ex-tesoureiro da campanha Paulo César Farias, o PC, enquanto Lacerda foi assessor especial da CPI que ajudou a levar ao impeachment do ex-presidente. Lacerda considera sua missão cumprida, mas se dispõe a permanecer no cargo por mais tempo para facilitar a transição. Citado para ocupar outras funções no novo governo, ele tem dito que está aberto a convites, mas só daqui a três meses, pois antes pretende descansar. Publicamente, porém, o diretor se recusa a confirmar a saída, para não passar a impressão de estar jogando a toalha ou de estar enfrentando alguma divergência com o governo.

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