Lula assume negociação com partidos aliados

A pedido de José Múcio, presidente vai receber legendas e procurar aplacar disputa por cargos

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Por Vera Rosa
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Preocupado com o reflexo que a disputa pela Comissão de Infraestrutura do Senado pode provocar na base aliada do governo, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, pediu ajuda ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sob o argumento de que a queda-de-braço entre o PT e o PTB deixará cicatrizes, Múcio solicitou a Lula, na semana passada, que entre em campo para soldar a base governista, dividida em infindáveis brigas por cargos. "Acho que o presidente, com a popularidade que tem, precisa se aproximar mais do Congresso", afirmou o ministro, que no ano passado chegou a pôr o próprio cargo à disposição de Lula, escancarando a contrariedade com o descumprimento de um acordo para a partilha de espaços na Petrobrás. Agora, diante do relato das novas dificuldades enfrentadas por ele, o presidente concordou em montar um calendário de reuniões com as bancadas de partidos aliados na Câmara e no Senado, a partir deste mês. A coalizão governista tem 14 siglas, mas Lula começará a conversar primeiro com as menores, como o PDT e o PV. O modelo será diferente das reuniões do Conselho Político, formado por presidentes e líderes de legendas simpáticas ao governo. "A ideia, agora, é criar uma agenda por semana, com todas as bancadas, por partido. Quem conversa com o presidente sempre fica satisfeito", diz Múcio, que nega estar preparando encontros para organizar barganha política. "Precisamos apenas curar as feridas, porque, numa disputa, as derrotas sempre deixam cicatrizes." O desfecho do impasse que atazana o Planalto ocorrerá hoje, quando será decidido quem comandará a Comissão de Infraestrutura do Senado. Se não houver acordo, a decisão será no voto. O PT não abre mão do cargo e quer emplacar no posto a senadora Ideli Salvatti (SC). O problema é que, para se eleger presidente do Senado contra o PT, no mês passado, José Sarney (PMDB-AP) prometeu uma comissão ao colega Fernando Collor (PTB-AL), em troca do seu voto. Collor escolheu primeiro a de Relações Exteriores, mas teve de ceder a vaga ao PSDB. Na tarde de ontem, assegurava que desta vez não desistiria da cadeira também cobiçada por Ideli. A situação tornou-se constrangedora para Múcio porque, apesar de seu desejo de mudar para o PMDB, ele ainda é filiado ao PTB, partido que vive às turras com os petistas. Nem mesmo os argumentos do ministro de que a Infraestrutura é considerada estratégica para o PT, por causa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fizeram o PTB recuar. O PAC é o xodó da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, provável candidata petista à sucessão de Lula, em 2010. Os aliados, no entanto, não estão unidos em torno da candidatura de Dilma: tanto o PTB como uma ala do PMDB ameaçam apoiar o governador José Serra, que postula a indicação do PSDB para concorrer ao Planalto. "Precisamos de mais articulação na Câmara e no Senado e mais coesão na base aliada", admitiu o senador Aloizio Mercadante (SP), líder da bancada petista. Para o senador Renato Casagrande (PSB-ES), porém, Lula pouco pode fazer para reverter o quadro de paralisia do Congresso. "Falta ao Senado articular temas importantes e impor um ritmo de trabalho."

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