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Lula aposta em blindagem do Brasil contra crise global

Por FERNANDO EXMAN
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou nesta terça-feira que continua otimista em relação à capacidade da economia brasileira de enfrentar a crise financeira global, apesar do efeito negativo das turbulências sobre o mercado de capitais nacional. Na avaliação do presidente, o impacto da crise sobre a economia do país será "quase imperceptível". Lula chegou a declarar que "até agora" a crise não desembarcou no Brasil, apesar de o principal índice da bolsa de valores de São Paulo ter amargado uma queda de mais de 7 por cento na segunda-feira. "Que crise? Vai perguntar para o Bush", afirmou o presidente a jornalistas, no Palácio do Planalto. Mais tarde, em entrevista coletiva concedida no Itamaraty, antes de oferecer almoço ao primeiro-ministro da Noruega, Lula ironizou o elemento que desencadeou a crise que dura mais de um ano. "O cassino imobiliário era muito maior do que a gente podia imaginar... a cada dia há uma surpresa", disse. Para Lula, o Brasil tem maiores condições de enfrentar a atual situação porque conta com mais de 200 bilhões de dólares em reservas internacionais e reduziu a importância do comércio com os Estados Unidos, por conta da maior diversificação dos mercados compradores de produtos brasileiros. "Essa diversificação nos permitiu estarmos tranquilos, porém atentos, como um médico responsável que faz a cirurgia no seu paciente e não vai embora para casa, fica lá para acompanhar a reação", complementou. O fortalecimento do mercado doméstico também foi apontado pelo presidente como um dos elementos que podem ajudar o país a enfrentar a situação. Lula agradeceu a Deus pelo fato de o sistema financeiro brasileiro não ter se envolvido no mercado de hipotecas de alto risco norte-americano, e voltou a cobrar uma reação do governo Bush. "Os Estados Unidos precisam resolver essa crise, porque obviamente tendo uma recessão nos Estados Unidos muito profunda ela pode atingir o mundo inteiro", disse. ATENÇÃO SEM ALARME Segundo um importante interlocutor do presidente, o governo segue atento, mas não alarmado. "Estamos há um ano sem nos assustar com o barulho do tiro", disse a fonte, que pediu para não ser identificada. "Os fundamentos econômicos têm dado solidez ao país para enfrentar a crise com tranquilidade", acrescentou. Na véspera, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, utilizaram o mesmo argumento quando tentaram dar um sinal de tranquilidade aos investidores, diante da reação negativa dos investidores ao anúncio da liquidação do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, a venda da Merrill Lynch para o Bank of America e as dificuldades financeiras enfrentadas pela seguradora AIG . A volatilidade ainda era marca presente nos mercados nesta terça-feira. A decisão do Federal Reserve de manter a taxa básica de juro dos EUA em 2 por cento chegou a provocar uma acentuação nas perdas das ações em Wall Street. Mas a possibilidade de elaboração de um pacote de ajuda para a AIG garantiu um momento de alívio aos mercados. Os principais indicadores de Wall Street fecharam em alta de mais de 1 por cento. (Reportagem adicional de Natuza Nery)

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