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Lula ajuda com créditos a ''''abertura'''' em Cuba

Na visita à ilha de Fidel, amanhã e depois, ele discute petróleo e rodovias

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Por Vera Rosa
Atualização:

Atento à perspectiva de abertura econômica em Cuba, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará em Havana, na terça-feira, um pacote de linhas de crédito para a ilha de Fidel Castro. O maior aporte de recursos coincide com o momento político vivido pelo país, com Fidel afastado do poder por motivos de saúde e a promessa de seu irmão Raúl Castro, presidente interino, de abrir o mercado para investimentos externos. Os projetos de financiamento que Lula levará na bagagem incluem desde obras de infra-estrutura viária, como pontes e rodovias que despertam interesse da construtora Odebrecht, no valor de US$ 623 milhões, até a remodelação da rede hoteleira, orçada em US$ 45,6 milhões. Lula desembarcará em Havana amanhã à noite, depois de assistir à posse do presidente eleito da Guatemala, Álvaro Colón Caballeros. Na lista dos convênios que devem ser assinados constam ainda a exportação de tecnologia para modernização de uma fábrica de níquel, com financiamento de US$ 70 milhões, e o aumento da linha de crédito para alimentos, que deve ficar em US$ 100 milhões. Não é só: a Petrobrás tem pronto um acordo de cooperação para exploração de petróleo no Golfo do México e pretende construir uma fábrica de lubrificantes em solo cubano. Na prática, o governo brasileiro quer pegar o primeiro trem da abertura em Cuba, embora não haja prazo para a mudança. Na quinta-feira, ao receber embaixadores brasileiros, Lula fez um comentário que ilustra bem seu raciocínio de mercador. "Todo mundo me critica porque eu negocio com a África, mas, quando a gente chega lá, os chineses já entraram, os indianos já investiram", disse, num discurso veemente em defesa da ousadia. O Brasil tem, hoje, uma presença discreta em Cuba e a corrente de comércio entre os dois países está na casa de US$ 325 milhões. "Atualmente, Cuba passa por um processo de flexibilização, semelhante ao da China, e a possibilidade de abrir cada vez mais a sua economia é muito importante para nós", afirmou o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, Alessandro Teixeira. ELEIÇÕES Desde 2003, quando assumiu o governo, esta é a segunda vez que Lula visita Cuba. Antes disso, porém, ele já esteve na ilha em várias outras ocasiões. Há sete anos, por exemplo, chegou a ser cicerone de uma excursão de petistas, que tinha como mote o bordão "Vá a Cuba com Lula". Em todas as visitas ele foi recebido por Fidel. "Mantemos relações fraternas de longa data e queremos cooperar com esse período de crescimento", disse o assessor de Relações Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. A conversa entre Lula e Fidel deverá ocorrer na manhã de terça-feira, mas, por cautela, o Planalto e o governo cubano evitam confirmar o encontro, sob alegação de que tudo depende do aval dos médicos. Fidel transferiu provisoriamente o comando de Cuba para seu irmão Raúl em julho de 2006 e, desde então, mantém-se recluso. Em novembro, Raúl anunciou que no próximo dia 20 haverá eleições nacionais parlamentares. Embora a medida não envolva Fidel, analistas políticos interpretam o pleito como parte do processo que vai determinar se o líder da Revolução Cubana de 1959 conseguirá manter-se como presidente. AVAL De qualquer forma, muitos dos acordos que o Brasil vai oferecer nesta visita ainda dependem do aval dos cubanos, como é o caso da construção da fábrica de lubrificantes e da exploração de petróleo. Há quatro anos, Cuba tem convênio com a Venezuela de Hugo Chávez, que fornece petróleo subsidiado à ilha em troca de serviços médicos. Aliado de Chávez, Fidel é um dos maiores críticos da produção de etanol para combustível, menina dos olhos do governo Lula. "Nada tenho contra o Brasil", escreveu o líder cubano no ano passado. "Mas ficar em silêncio seria para mim optar entre a idéia de uma tragédia mundial e um suposto benefício para o povo dessa grande nação." Para Fidel, a expansão dos biocombustíveis põe em risco a produção de alimentos. Lula discorda. "No meu país, a fome está diminuindo ao mesmo tempo em que os biocombustíveis estão se expandindo", retrucou ele, em julho, ao participar da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis da Comissão Européia, em Bruxelas.

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