Lula admite política de juros herdada de FHC

É a primeira vez que o presidente assume praticar juros da "economia herdada". Lula admitiu também estar aflito com as taxas do mercado e prometeu para breve a política de juros da "nova economia"

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pela primeira vez desde que assumiu o governo, em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que pratica os juros da "economia herdada" da gestão Fernando Henrique Cardoso e admitiu estar preocupado com o "efeito psicológico" da taxa básica, a Selic - atualmente em 26,5% ao ano - sobre o dia-a-dia da população. Mais: disse que também está aflito com os juros de mercado. Sem especificar prazos, Lula garantiu que os juros da "nova economia" virão logo. Mas advertiu não poder fazer mudanças de forma estabanada. "Eu não fui eleito para quebrar o Brasil", afirmou o presidente, em entrevista concedida logo depois do encerramento da 17.ª Reunião de Cúpula do Grupo do Rio, em Cuzco, no Peru. "Fui eleito para retomar o desenvolvimento do país, fazer a economia crescer e gerar emprego, que é minha obsessão. Estou consciente de que os passos estão sendo dados, de forma equilibrada. Não briguei para ser presidente para fazer o que os outros fizeram." Ao lado do presidente do Peru, Alejandro Toledo, Lula reclamou que os juros de mercado estão "asfixiando" a capacidade de desenvolvimento da economia e acabou endossando as queixas que pipocam por todos os lados dentro do próprio governo. "Vamos acertar a taxa Selic porque ela tem efeito psicológico extraordinário na sociedade e, sobretudo, tem economia fantástica para os cofres do governo, que é o único responsável por ela", argumentou o presidente. Lula lembrou que o governo oferece títulos ao mercado e pode pôr a taxa lá em cima para obter dividendos. "Agora, depende do governo aceitar isso ou não e nós estamos criando mecanismos para não precisarmos ficar dependentes apenas da venda de títulos ao sistema financeiro", ressalvou. Sem esconder a insatisfação, o presidente disse estar mais preocupado com os juros de mercado. "O pequeno empresário que quer fazer capital de giro não está pagando 26,5%, mas, sim, 50% a 60% no sistema financeiro. Quando a dona-de-casa compra uma geladeira para pagar em 24 meses, está, na verdade, pagando 180% ao ano", observou. Com um discurso que admitia a contrariedade, mas assegurava que tudo será feito "de forma sólida e passo a passo", Lula comparou a política econômica a uma incansável luta de box. "O Cassius Clay apanhou 12 assaltos para no final nocautear o George Foreman", recordou, referindo-se à célebre luta dos dois pesos-pesados, em outubro de 1974. "Então, as coisas são assim: você não faz mudanças de forma estabanada: você prepara." Questionado se os juros cairiam na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), Lula não respondeu. "Tenho coisa mais importante para fazer no Brasil e não posso ficar analisando reunião de Copom", comentou. "Só posso afirmar isso: os juros que estamos praticando são o da economia herdada. Os da nova economia virão mais rápido do que vocês imaginam."

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