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Lula acusa governo de SP de atrasar licença ambiental para obras da União

'Não dá para ficar esperando a boa vontade de um burocrata, sentado sem se preocupar em como o povo vai viver', disse o presidente em inauguração de obra em Diadema

Por Anne Warth da Agência Estado , DIADEMA e SÃO PAULO
Atualização:

Em um discurso de improviso nesta sexta-feira, 16, durante a inauguração de um conjunto habitacional na cidade de Diadema, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou o governo de São Paulo de atrasar a concessão de licenciamentos ambientais em obras do governo federal no Estado. Durante a entrega da primeira etapa do projeto de urbanização da antiga Favela Naval, Lula disse que o governo estadual impede a União de fazer obras e projetos na região e não atua como parceiro, apesar de ter terrenos disponíveis.

 

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Ao se referir ao prefeito de Diadema, Mario Reali (PT), que discursou pouco antes do presidente, Lula disse que o prefeito havia se esquecido de criticar "a pessoa do Estado que tem de dar licença ambiental para fazer as coisas aqui". "Não é apenas em Diadema que as licenças não saem, mas também em outros lugares do Estado. Me parece que tem uma pessoa, que eu não sei quem é, que cria dificuldades para dar licença ambiental para a gente fazer as coisas", afirmou o presidente. "Nossa passagem pela Terra é muito curta. Não dá para ficar a vida inteira esperando a boa vontade de um burocrata com a bunda na cadeira, no ar condicionado, sentado sem se preocupar em como o povo vai viver."

 

Lula disse que é importante que os prefeitos assumam essa briga com o Estado. "A nível federal nós temos brigado muito para que a gente consiga liberar as coisas com a rapidez necessária."

 

Procurado para comentar as declarações, o Palácio dos Bandeirantes disse estar "analisando" o que foi dito pelo presidente. Embora não tenha citado nomes, as críticas acontecem poucos meses após o principal candidato da oposição à Presidência, José Serra (PSDB), ter deixado o governo do Estado. Lula tem sido criticado por usar a máquina estatal para promover sua candidata, a petista Dilma Rousseff. No fim da tarde desta sexta-feira, o presidente participará da sua primeira agenda eleitoral ao lado de Dilma, no Rio de Janeiro, fora do horário de expediente.

 

Lula justificou o seu linguajar pela proximidade do fim de seu mandato como presidente da República. "Sei que a gente é governo e tem de ter diplomacia e linguajar adequado, mas eu estou quase deixando de ser presidente e vou voltar a falar do jeito que sempre falei nesse País", afirmou, muito aplaudido pela plateia de moradores da região, que ouviam o presidente ao ar livre, apesar do frio e da chuva.

 

Além de Reali, o presidente estava acompanhado do ministro das Cidades, Márcio Fortes e do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT). Antes de discursar, Lula percorreu o conjunto habitacional, cujas unidades permanecem inacabadas, sem instalação de piso nos dois quartos e na sala. O presidente deixou o local sem conceder entrevista.

 

O prefeito de Diadema também cobrou uma atuação mais ativa do governo do Estado em obras de urbanização da cidade. "O Estado tem área disponível e tem de entrar como parceiro no Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) 2", disse. O projeto de urbanização da região custou R$ 25,5 milhões, dos quais R$ 20,5 milhões vieram do governo federal e R$ 5 milhões do município. Cada uma das 252 unidades habitacionais, de 42m², custou R$ 34 mil, dos quais R$ 19,6 mil foram repassados pelo governo federal e o restante, pela Prefeitura de Diadema.

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Cautela

 

Mais cuidadoso ao falar das eleições, o presidente não citou o nome e nem a participação da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, ex-ministra da Casa Civil, em seu discurso. Os apartamentos fazem parte de obra do PAC, do qual Dilma foi nomeada por Lula "mãe" na época de sua criação. "Fizemos muito por esse País, mas ainda falta muito e não queremos retrocesso", limitou-se a dizer o presidente.

 

O presidente prometeu ao prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT) que a região da antiga Favela Naval que compreende a cidade, ainda não urbanizada, também será atendida pelo programa do governo federal. Ainda na Favela Naval, está prevista a entrega de mais 156 apartamentos, melhorias em 599 casas da parte já urbanizada da região, além de obras de infraestrutura para abastecimento de água e esgoto e pavimentação de ruas.

 

Lula lembrou que Diadema foi a primeira cidade governada pelo PT, que venceu as eleições na década de 80. "Nunca mais deixamos de governar Diadema. É bem verdade que nossos prefeitos brigavam muito", disse o presidente. "Finalmente, depois de uma sequência de administrações, Diadema está deixando de ser uma cidade dormitório e uma das (cidades) mais feias do ABC. Ninguém tem mais vergonha de dizer que mora em Diadema."

 

O presidente aproveitou a oportunidade para comemorar a criação 1,460 milhão de empregos com carteira assinada no primeiro semestre. "Se Deus quiser vamos criar mais 1 milhão até o final do ano", disse.

 

Acidente da BP

 

Lula também comentou o acidente na plataforma de petróleo na região do Golfo do México e acusou a British Petroleum (BP) de ter utilizado materiais baratos, o que teria causado o acidente. "Ela tentou fazer a coisa mais barata. E o barato saiu caro. Se Deus quiser, isso não vai acontecer no Brasil", disse, ressaltando que a Petrobras tem uma tecnologia mais avançada que a multinacional inglesa.

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O presidente Lula deixou o evento sem dar entrevista coletiva. Ainda hoje Lula deve ir ao Rio, onde participa de atividades de campanha de Dilma.

 

Com informações de Fausto Macedo e Rodrigo Alvares

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