Lina diz que Dilma fez pedido ''incabível''

À CCJ afirma que não mentiu sobre reunião nem sobre teor do diálogo

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Por Renato Andrade e BRASÍLIA
Atualização:

A ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira reafirmou ontem, em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que se reuniu com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no final de 2008, e recebeu pedido para "agilizar" a fiscalização sobre Fernando Sarney, principal administrador das empresas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). É "incabível", declarou. Lina voltou a dizer que Erenice Guerra, secretária executiva da Casa Civil, foi à Receita avisar que Dilma queria vê-la. Deu mais detalhes sobre o encontro no Palácio do Planalto, como o nome do motorista que a levou ao local e do assessor que a ajudou na pesquisa, em computador da Receita, após a audiência com a ministra. Dilma, além de afirmar que não interferiu na fiscalização da Receita, vem negando enfaticamente que tenha chamado a ex-secretária e se reunido com ela. No dia 10, em Natal, a ministra afirmou: "A reunião privada, a que ela se refere, eu não tive." No dia seguinte, em Mossoró, desafiou: "Não estamos na Idade Média, em que se prova a veracidade de alguma coisa por ênfase. A gente não afirma, a gente prova." Erenice negou, em nota oficial, ter encontrado com Lina na Receita. A ex-secretária garantiu aos senadores que não precisa "de agenda para dizer a verdade" e colocou-se à disposição para acareação com Dilma. Rebateu críticas e disse que não mentiu. "Não mudo a verdade no grito, não preciso de agenda para dizer a verdade e a mentira não faz parte da minha biografia." No ponto que mais interessou à base aliada, Lina afirmou que não se sentiu "pressionada" pela ministra, mas que a solicitação foi "descabida" e "não pode haver ingerência política na administração tributária". Lina entendeu assim o pedido da ministra Dilma: "Eu interpretei que era para dar um tratamento célere, para resolver as pendências e encerrar a fiscalização." De volta ao prédio da Receita, ela contou que consultou os dados sobre a fiscalização e decidiu não tomar nenhuma iniciativa, já que o processo corria em segredo de Justiça e a Receita já havia acelerado as investigações por ordem de um juiz. MENTIRA Os governistas saíram do depoimento considerando que a dúvida sobre a existência ou não da reunião perdeu importância. Agora, alegam, o mais importante é que Lina admitiu não ter sofrido pressão política para cancelar ou aliviar as investigações. Senadores da base governista deixaram o plenário da CCJ convencidos de que Lina mentiu. "Como é que alguém tem um encontro com a ministra Dilma e não sabe o dia, a hora?", indagou Wellington Salgado (PMDB-MG). "Eu acho que o que houve foi um grande mal-entendido. Essa questão morre com essa audiência", disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Apesar de insistir que não se lembrava da data do encontro, Lina reiterou que foi levada ao Planalto, numa tarde de dezembro, por um dos motoristas que atendem o órgão, chamado Warley. Disse ter entrado pela garagem do palácio, se identificado com a segurança, passado pelo detector de metais e subido sozinha em um elevador até o quarto andar, onde fica o gabinete de Dilma. "Encontrei com a Erenice no corredor e fui para uma sala onde estavam duas pessoas, um homem e uma mulher", disse Lina, confirmando informação dada em entrevista no início do mês ao jornal Folha de S. Paulo. "O encontro foi rápido, não durou mais de 10 minutos, falamos algumas amenidades e depois ela me pediu para agilizar a fiscalização do filho do Sarney."

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