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Líderes partidários elogiam união de presidenciáveis contra Bolsonaro

Presidentes do PDT e do PT, Carlos Lupi e Gleisi Hoffmann afirmaram que debate entre Ciro Gomes, Eduardo Leite, Fernando Haddad, João Doria e Luciano Huck mostrou que é possível discutir política com civilidade

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Por Adriana Ferraz
Atualização:

O debate inédito ocorrido na noite deste sábado, 17, entre possíveis candidatos à Presidência da República em 2022 mostrou, segundo líderes partidários ouvidos pelo Estadão, que é possível discutir política com civilidade, mesmo entre representantes de partidos diferentes, e que a busca de uma unidade contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro já começou. 

Ciro Gomes, Eduardo Leite, Fernando Haddad, João Doria e Luciano Huck, durante painel da Brazil Conference mediado por Eliane Cantanhêde e Hussein Kalout Foto: Reprodução

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O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PDT), os governadores João Doria (PSDB-SP) e Eduardo Leite (PSDB-RS), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o apresentador de TV Luciano Huck participaram do painel de encerramento da sétima edição da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento organizado pela comunidade de estudantes brasileiros de Boston (EUA), em parceria com o Estadão. Quase sempre unidos em críticas ácidas ao presidente, eles também falaram em “convergência” num projeto de País que derrote Bolsonaro nas urnas.

O encontro foi classificado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, como um "debate político interessante, não necessariamente de candidatos à Presidência". Segundo a deputada federal, a conversa virtual mostrou que "é possível discutir política com civilidade no Brasil, apesar de Bolsonaro".

Representado por Haddad, derrotado por Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018, o PT agora espera ter a chance de lançar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Na semana passada, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a decisão do ministro Edson Fachin e anulou todas as condenações do ex-presidente no âmbito da Operação Lava Jato, tornando-o novamente elegível. 

O possível retorno de Lula ao jogo eleitoral, no entanto, não foi tratado pelos participantes do debate, que evitaram tratar diretamente das eleições do ano que vem. Único a colocar-se como candidato de forma mais clara, Ciro Gomes foi elogiado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi.

"O encontro foi bastante importante. Vi ali uma demonstração de unidade contra Bolsonaro. E é essa mesmo a hora de unirmos as forças democráticas", disse Lupi, ressaltando o preparo de Ciro. "Debates assim também são bons para que se possa comparar o preparo de cada um. Ciro é experiente, competente, tem projeto de nação."

Presidente nacional do MDB, Baleia Rossi não comentou o conteúdo da conversa, mas afirmou que faltaram líderes no debate. Segundo ele, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) - também cotado como presidenciável - deveria ter sido chamado a compor a mesa virtual, assim como um representante do MDB.

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Mandetta participou também neste sábado do Brazil Conference at Harvard & MIT, mas compondo outro painel, sobre a necessidade de se fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), juntamente com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

Para a deputada federal Carla Zambelli (PSL- SP), considerada uma das bolsonaristas mais fieis ao Planalto, o debate evidenciou "um jogo orquestrado para tentar enfraquecer a imagem do presidente com falsas narrativas". Segundo ela, uma das falsas narrativas utilizadas pelos presidenciáveis citados é culpar Jair Bolsonaro pelas ações tomadas ao longo da pandemia. "O próprio Supremo decidiu que as açoes seriam administradas pelos governadores e prefeitos. O que eles tentam agora (Doria e Leite) é se eximir, até por causa da CPI", disse.

Carla Zambelli também disse acreditar que o grupo reunido ontem será acrescido de outros nomes, como o do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e de Mandetta, além do youtuber Felipe Neto. "Vão entrar para tentar aumentar a popularidade deles para um ser escolhido candidato a presidente. Essa é a narrativa."

Painel

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O painel, denominado Desafios do Brasil, foi mediado por Eliane Cantanhêde, colunista do jornal, e pelo ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República no governo Michel Temer, Hussein Kalout

Os mais vocais nas críticas foram Doria, Ciro e Haddad, que chegaram caracterizar como "genocida" a atuação do governo no combate ao coronavírus, destacando oportunidades perdidas para salvar vidas. Huck e Leite deram amplo destaque à questão ambiental. Em clima de cordialidade, todos destacaram que é preciso “curar as feridas provocadas pela polarização política” e formar um projeto de País que se possa vencer Bolsonaro nas urnas.

Com exceção de Haddad, os demais participantes do debate já assinaram em conjunto, mês passado, um manifesto em defesa da democracia e contra o autoritarismo. Ciro, Doria, Leite e Huck –  além  de Mandetta – , são apontados como os nomes possíveis hoje para tentar impedir que a disputa entre o petismo e o bolsonarismo se repita em 2022.

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Perguntados, Haddad, Ciro e Doria defenderam o respeito a diferentes visões e à democracia, um ponto salientado por Leite em sua fala inicial. Haddad, que é petista, citou a sua boa relação e respeito pelo ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso e manifestou solidariedade a Doria e Leite.

"Eu queria terminar me solidarizando com os dois governadores que estão aqui, que são do PSDB  e que têm sofrido ataques indignos e intoleráveis. Queria manifestar o meu repúdio ao tratamento que os governadores em geral vêm recebendo e aos dois presentes em particular. Todo mundo aqui merece ser respeitado. Não é aceitável o que está acontecendo no Brasil", defendeu Haddad, referindo-se à forma como os tucanos vem sendo classificados por Bolsonaro, que já chamou Doria, por exemplo, de "patife".

Doria fez um gesto de aplauso à fala e, mais adiante, citou a transição democrática de quando o petista, derrotado nas eleições em 2016, lhe transmitiu a Prefeitura de São Paulo. 

Único sem partido e apresentando-se como um "representante da sociedade civil", Huck afirnou ao final do debate que o encontro serviu para que ele tivesse a certeza de que a "convergência" é possível. "Não discordei de nada que foi dito aqui. É possível a construção de narrativa comum. Vai ser perfeita, não. Teremos de concessões de parte a parte para acharmos um caminho, mas alguém precisa acender a luz."