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Líderes governistas já discutem substituição de Bezerra

Por Agencia Estado
Atualização:

É tamanho o descontentamento do Palácio do Planalto e do PMDB com o ministro da Integração Regional, Fernando Bezerra (PMDB-RN), que antes mesmo de ele desembarcar em Brasília hoje à noite, com sua defesa para rebater as denúncias de desvio de verbas da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), governo e líderes aliados já discutiam sua substituição com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Em reunião hoje cedo entre FHC e os articuladores políticos do governo e os líderes do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), e do PSDB, senador Sérgio Machado (CE), os nomes lembrados para o posto de Bezerra foram o do ex-presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o do líder do PMDB, deputado Geddel Vieira Lima (BA). Ainda de Natal (RN), onde reunia documentos para comprovar a aplicação correta dos recursos que a Sudene destinou a empresa Metasa, da qual foi sócio de 1989 a 1998, Bezerra telefonou ao ministro-chefe da Secretaria-Geral do Planalto, Aloysio Nunes Ferreira. Na conversa, garantiu ter provas documentais de que todo o dinheiro repassado à Metasa neste período foi corretamente aplicado na empresa, e com contrapartida. Mas, numa demonstração do ceticismo do Planalto em relação à permanência de Bezerra no ministério, Fernando Henrique decidiu que Aloysio é quem deveria recebê-lo para esta primeira conversa e não ele. "O presidente não vai recebê-lo hoje por questões de agenda", desculpou-se o porta-voz da Presidência, Georges Lamazire. Nenhum cardeal do PMDB arriscou uma só palavra em favor do ministro e menos ainda uma articulação para poupá-lo. O único que saiu em campo, defendendo Bezerra, foi o vice-presidente do PFL, senador José Agripino Maia (RN), dando pistas de que a eventual demissão do ministro atingirá mais o PFL potiguar do que o PMDB. Agripino destacou que a Metasa é um "empreendimento sério", tanto que ajudou a empresa a liberar recursos da Sudene no período em que ele governou o Rio Grande do Norte. "O problema é que a empresa enfrentou dificuldades devido ao dumping praticado pela China e porque as reservas de tungstênio na Serra da Formiga eram menores do que as previstas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)", disse. O empenho do senador pefelista em preservar o ministro peemedebista tem suas razões na corrida pela sucessão estadual em 2002. Agripino decidiu apoiar a candidatura de Bezerra, numa articulação contra o PMDB dos Alves, que quer o deputado Henrique Eduardo Alves na cadeira do governador Garibaldi Alves (PMDB). Em busca de espaço político para garantir sua candidatura, o próprio Bezerra já havia dado pistas de sua intenção de trocar o PMDB pelo PTB em setembro, cumprindo assim o prazo legal de um ano de filiação para os candidatos às eleições gerais de 2002. O PMDB vê na saída do ministro uma boa oportunidade para resolver logo um problema regional, eliminando a disputa pela legenda entre Henrique Eduardo e Bezerra. Mas esta não é a única razão que leva os cardeais peemedebistas a cruzar os braços diante das dificuldades do ministro. A cúpula do PMDB avalia que Bezerra é muito pouco partidário em sua relação com os companheiro. Neste caso, salienta um dirigente do partido, não vale a pena para ninguém se expor publicamente para defender o ministro. Depois do bombardeio de denúncias de corrupção do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), e da insistência do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) em colar no partido o carimbo da corrupção, a avaliação do PMDB é a de que o desgaste de uma defesa não compensa. "O melhor é defenestrar logo este ministro", resume o dirigente. Os peemedebistas queixam-se, também, da falta de solidariedade do ministro Bezerra. Que o diga o líder Renan Calheiros, que rompeu com o ministro recentemente, quando este deu publicidade às suas suspeitas de irregularidade na aplicação de verbas do Ministério da Integração pela prefeitura de Murici (AL). A prefeitura é comandada por um dos irmãos de Calheiros que nem sequer foi ouvido ou chamado a dar explicações, antes de o ministro divulgar suas denúncias. O troco veio ontem, quando Renan ouviu calado os nomes de Temer e Geddel serem cogitados para substituir Bezerra. Na reunião com o presidente Fernando Henrique, da qual participou também o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, ficou praticamente acertado que o eventual substituto de Bezerra será mesmo do PMDB que mantém o cargo sobretudo porque o governo precisa manter o apoio do partido neste momento grave de risco iminente de instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ampla para apurar corrupção no País. Segundo um dos participantes do encontro, não seria fácil tirar os incentivos regionais das mãos de um nordestino, com Temer por exemplo, mas este não foi o critério que ficou estabelecido ontem. Do ponto de vista do governo, o pré-requisito para ocupar a cadeira de ministro da Integração hoje é ter bom trânsito e respeitabilidade no Congresso.

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