Líderes da repressão foram 'lavar roupa suja' em público

Passada a guerra, Setembrino foi prestigiado e Potyguara saiu como fuzilador

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Por Redação
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Após a guerra, o general gaúcho Setembrino de Carvalho (1867-1947) voltou prestigiado para a capital federal. Os rumores de que tinha superfaturado preços de rações e munições se restringiam à caserna. Ele foi nomeado ministro da Guerra pelo presidente Artur Bernardes (1922-1926), um dos governos mais criticados por violações de direitos humanos da República, por fuzilamentos de presos políticos e bombardeios de áreas civis.

 

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O coronel cearense Tertuliano de Albuquerque Potyguara (1873-1957) tentou levar adiante a imagem de oficial destemido e brilhante. Em 1918, embarcou para a Europa, onde se juntou ao 70º Batalhão de Caçadores do Exército Francês, que atuou Primeira Guerra Mundial. Foi ferido em combate. Na crise militar de 1922, num acalorado debate no Clube Militar, chamou de "cretino" o tenente Gwyer de Azevedo, adversário de seu grupo na instituição. Azevedo rebateu: "Cretino é Vossa Excelência. Não estamos no Contestado, onde Vossa Excelência mandava fuzilar a torto e a direita".

 

Potyguara sempre esteve ao lado do governo, ajudando a reprimir os movimentos revoltosos dos 18 do Forte e do movimento de 1924 em São Paulo. Nesse ano, no Rio, perdeu um braço ao abrir uma correspondência com explosivo, enviada por um militar desafeto. Mesmo com apenas um braço, atuou na repressão aos paulistas que voltaram a pegar em armas contra o governo federal, em 1932. Potyguara chegou a general do Exército e foi eleito deputado federal pelo Ceará, mas não foi longe na vida pública e em cargos militares. Morreu em 1957, aos 84 anos.

 

O general Francisco Raul d´Estillac Leal passou o resto de seus dias tentando justificar o motivo de não dar apoio ao "destemido" capitão Potyguara e não obter sucesso na tomada de Santa Maria. Era criticado por jogar a culpa nos subordinados. Um de seus filhos, Newton Estillac Leal, foi ministro da Guerra nos anos de 1951 e 1952 do governo constitucionalista de Getúlio Vargas. Caiu após uma forte campanha de setores da imprensa que o acusavam de acolher comunistas em seu gabinete e ser uma das vozes decisivas para Vargas não mandar tropas para a Guerra da Coréia. Ao aceitar a demissão de Estillac Leal, Vargas admitia seu enfraquecimento e dava início ao processo de sua própria queda, em 1954.

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