Liderados por Alcolumbre, senadores cancelam votação da Previdência e vão ao STF

Articulação tem como objetivo derrubar decisão do ministro Luís Roberto Barroso, que autorizou operação da Polícia Federal contra o líder do governo no Senado

PUBLICIDADE

Foto do author Daniel  Weterman
Por Daniel Weterman e Mariana Haubert
Atualização:

BRASÍLIA - Em resposta à operação da Polícia Federal como alvo o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), na semana passada, líderes da Casa decidiram cancelar a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desta terça-feira, 24, que votaria a nova versão do relatório da reforma da Previdência. No mesmo horário, um grupo de senadores vai até o Supremo Tribunal Federal para se reunir com o ministro Dias Toffoli, presidente da Corte. A articulação pela derrubada da reunião foi antecipada pelo Broadcast Político.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Foto: Marcos Oliveira/Agencia Senado - 11/9/2019

PUBLICIDADE

A cúpula do Senado considerou a ação da PF como "abuso de autoridade".O encontro com Toffoli tem como objetivo pedir a suspensão da liminar, do ministro Luís Roberto Barroso, que autorizou a busca e apreensão em gabinetes de Bezerra e seu filho, o deputado Fernando Filho (DEM-PE). Os dois são suspeitos de ter recebido R$ 5,538 milhões em propina. Eles negam irregularidades.

A ação abriu uma crise entre o Senado e o STF. "Houve uma usurpação de competência", disse o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA).

O presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), contestou a operação, pois, na época dos fatos investigados, Bezerra não tinha mandato de senador. A Procuradoria-Geral da República havia se manifestado contrária a essa medida, solicitada pela PF. 

“A drástica interferência foi adotada em momento político em que o Congresso Nacional discute a aprovação de importantes reformas e projetos para o desenvolvimento do País. Mostra-se, desse modo, desarrazoada e desnecessária, em especial pela ausência de contemporaneidade, pois os fatos investigados ocorreram entre 2012 e 2014”, disse Alcolumbre, em nota divulgada no dia da operação, na quinta-feira passada. Em declaração a jornalistas, ele também afirmou considerar a ação uma “diminuição do Senado Federal”. “Eu não vou deixar que isso aconteça.”

Em nota divulgada após as críticas de Alcolumbre, Barroso disse que a decisão que autorizou a operação “foi puramente técnica e republicana” e que a investigação de fatos criminosos pela PF e a supervisão de inquéritos policiais pelo STF “não constituem quebra ao princípio da separação de Poderes, mas puro cumprimento da Constituição”.

Previdência

Publicidade

Em uma reunião realizada na manhã desta terça-feira com líderes até mesmo da oposição e a presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), ficou acertado que a reforma será votada apenas na semana que vem.

"O calendário será mantido. Os líderes se comprometeram a votar o segundo turno da proposta em plenário até o dia 10 de outubro, como estava acordado anteriormente", afirmou Tebet.

A senadora, no entanto, considerou a manobra um "erro de estratégia" por considerar que a comissão poderia deliberar sobre o tema ainda hoje, mesmo que os líderes quisessem ir ao STF. Durante a reunião, ela e o relator da proposta, Tasso Jereissati (PSDB-CE), discordaram da decisão da maioria.

Bastidores

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

A reação do Senado que adiou a votação da reforma da Previdência foi articulada em jantar na noite de segunda-feira, 23, na residência de Davi Alcolumbre.  A reação emcampada pelo próprio Bezerra, que voltou a Brasília após passar o fim de semana em Pernambuco, e pelo líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM). Líderes de outros partidos, entre eles o do PT, Humberto Costa (PE), também participaram da articulação e patrocinaram o movimento.

Para pressionar o governo e mandar o recado também ao STF, o grupo combinou de adiar a votação da nova versão do relatório da reforma na CCJ.

Antes da sessão da CCJ, o grupo pediu uma reunião comSimone Tebet e Tasso Jereissati, onde expuseram o plano. De acordo com fontes ouvidas pelo Broadcast Político, a articulação irritou os dois porque foram pegos de surpresa. Eles não chegaram a ser convidados para o jantar de ontem. A conversa ocorreu entre 11 senadores já com o painel de registro de presença na CCJ aberto. Apenas quatro parlamentares haviam registrado presença no colegiado.

Publicidade

O presidente do Senado negou que estivesse adiando a tramitação da proposta. Calendário de líderes, no entanto, previa o segundo turno da votação para 10 de outubro. Alcolumbre, nesta terça-feira, não quis se comprometer com a data, mas garantiu a votação para a primeira quinzena do mês. No início da tramitação da reforma no Senado, ele havia citado 10 de outubro como data para promulgação das mudanças.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.