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Líder do PSL diz que governo ‘não existe’ e que Bolsonaro está ‘comprando’ deputados

Delegado Waldir afirma que presidente usa cargos e Fundo Partidário para alçar filho ao posto de líder da bancada

Por Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA – Gravado em uma reunião em que chama Jair Bolsonaro de “vagabundo”, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), afirmou, nesta sexta-feira, 18, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, que o presidente  está “comprando” deputados com cargos e fundo partidário para alçar o filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao posto de líder da bancada.

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Segundo ele,  o governo está parado, “não existe”, pois está focado na crise da legenda. “A única finalidade do governo hoje é me derrubar da liderança do PSL.” Na entrevista, o deputado repete o xingamento que fez em reunião fechada. “Eu não menti. Ele me traiu. Então, é vagabundo”, disse.

Waldir diz que a ameaça que fez de “implodir” o presidente, gravada na reunião, está relacionada aos áudios em que Bolsonaro tenta convencer deputados a apoiar o nome de Eduardo. O líder do PSL não descarta a possibilidade de isso vir a ser usado como argumento para um eventual pedido de impeachment. “Eles (deputados) precisam analisar se compra de parlamentares para votar a favor do filho é motivo de cassação do presidente”

Afinal de contas, o que o senhor tem para implodir o presidente? O que é essa gravação que o senhor fala no áudio vazado?

A gravação que tem é a que já foi divulgada. É na qual ele pede votos, negociando com parlamentares e comprando a vaga do filho dele na liderança do PSL, oferecendo cargos e fundo partidário.

Acha que vai conseguir se manter como líder da bancada do PSL?

É uma vitória fenomenal eu ainda estar na liderança, considerando que líder do governo, o presidente e ministros estão atuando contra. O governo parou. O governo não existe hoje. A única finalidade do governo hoje é me derrubar da liderança do PSL. A traição vem de onde você menos espera.

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A bancada do PSL ainda votará com o governo?

Não haverá consenso em todas as pautas com o presidente Bolsonaro, o partido terá seu posicionamento. Qualquer conduta do presidente de tentar inibir os órgãos de combate à corrupção não terá nosso apoio, como já foi feito com o (Conselho de Controle de Atividades Financeira) Coaf, com enfraquecimento da Polícia Federal, do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, a ação do governo em relação à CPMI das Fake News.

Eu fui duramente atacado nos últimos dias por grupos de direita, tive de excluir do meu Instagram mais de 1.500 seguidores, que a gente sabe que são robôs. É uma armação orquestrada. Estaremos contra o governo porque ele é contrário à instalação da CPI Lava Toga. Mas, nas pautas econômicas, estaremos juntos.

O líder do PSL no Congresso, deputado Delegado Waldir (GO) Foto: Dida Sampaio/Estadão

Houve uma oferta para a ala dos “bolsonaristas” saírem do PSL sem perder o mandato. O senhor concorda com isso?

É uma decisão do presidente (do PSL) Luciano Bivar, não posso falar porque não compete a mim essa decisão.

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O Planalto acena com uma saída intermediária, em que o senhor sairia da liderança e eles recuariam de indicar o Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Alguém o procurou? Aceitaria isso?

Eu não saio da liderança. Meu mandato é até janeiro. Só saio se o presidente do PSL, Luciano Bivar, o vice, Antonio Rueda, e todos os parlamentares pedirem. Caso contrário, só em janeiro. Ninguém me procurou para falar sobre isso e eu não topo. E eu não posso falar nada por mim, faço parte de um grupo. Não posso ter atitudes individualistas. Só quando tiver uma decisão desse grupo é que podemos dialogar. Mas como você acha que esse grupo poderia querer isso se, nesse momento, eles (governo) estão ligando para parlamentares.

O governo continua ligando?

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Continua. O líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (GO), acabou de ligar para um deputado durante a reunião do partido, o Abou Anni (PSL-SP). Ele ligou e o Abou me mostrou que estava ligando para pedir o nome na lista deles. Eles não querem trégua. Estão fingindo, querendo ganhar tempo para fazer o líder.

O que Bolsonaro tem de fazer para recompor sua base no Congresso?

Ele nunca teve base no Congresso. Tinha 53 deputados que votaram com 98% de fidelidade.

Ele vai ter ainda esses 53?

Em algumas pautas sim, em outras não.

Depois de chamar o presidente de vagabundo, há chances para retomar a relação?

Eu não menti. Ele me traiu. Se precisar, eu repito dez vezes. Eu fui um dos quatro votos para ele (na disputa pela presidência da Câmara, em 2016), contrariando meu partido na época, o PR. Votei no Bolsonaro. Recusei R$ 2,5 milhões de emendas parlamentares na época e vim para o PSL. Andei 246 municípios no sol. Fui chamado de louco ao defender Bolsonaro. Ele nunca me recebeu e agora me traiu ao pedir ao Bivar, por proposta do Major Vitor Hugo e do governador de Goiás Ronaldo Caiado, o diretório do Estado. Então, é vagabundo.

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Tem alguma chance de retomar a relação com o Bolsonaro?

Ele é quem tem que pensar o que tem que fazer. Eu não guardo ódio de ninguém não, mas a conduta dele em relação a mim...eu nunca fiz nada para ele, sempre fui fiel. É só olhar minhas redes sociais e veja se há um ataque sequer a ele.

O que pretende fazer caso Eduardo assuma a liderança, já que governo está se articulando de novo?

Eu não vou fazer nada, quem vai fazer é o partido. O partido inclusive já fez agora suspendendo cinco parlamentares que não têm mais direito a voto. Isso já foi notificado para Câmara.

Em relação ao deputado Daniel Silveira (RJ) que gravou o senhor, o que pretende fazer?

Ele não atacou ao partido, atacou ao Parlamento, ao gravar vários deputados. Isso é Conselho de Ética e apuração criminal. Vamos pedir, assim como foi feito com Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara, atualmente preso), que é a cassação. O PSL vai fazer esse pedido.

O senhor disse em entrevistas que Bolsonaro tinha problemas no “quintal dele”. A que estava se referindo?

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Ué, é o filho dele. Qual é que tem problema e está sendo investigado?

O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)?

Sim.

Bolsonaro pode sofrer impeachment por causa dos filhos?

Isso temos de aguardar. Quem decide isso é o Parlamento. Se algum partido fizer uma proposta, cabe ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se leva para plenário ou não. Não é decisão minha. Eles precisam analisar se compra de parlamentares para votar a favor do filho é motivo de cassação do presidente. Isso depende de outros fatores.

A crise afeta votações no Congresso? Isso não terá impacto na economia?

Não vamos prejudicar em nenhum momento o povo brasileiro. Acima dos interesses partidários, existem os interesses do País. Vamos votar todas as pautas econômicas. São teses que sempre defendemos, reforma tributária, administrativa e tudo mais que for pauta de interesse do Brasil.

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O senhor põe a mão no fogo por Bolsonaro?

 Eu só coloco a mão no fogo pela minha mãe.

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