'Levantaram ofensas e acusações sem prova’, diz Yeda Crusius

Tucana diz que se tornou alvo de denúncias ‘requentadas’ e acusa oposição de alimentar ‘propósitos golpistas’

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Por Elder Ogliari
Atualização:

Bem no início daquele que se anuncia como o melhor ano de sua gestão, a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), está no centro de mais uma onda de denúncias políticas, feitas pelo PSOL e atribuídas a provas que estariam no processo que vai julgar os réus do desvio de R$ 40 milhões dos Detran/RS entre 2003 e 2007. Em vez de falar do equilíbrio fiscal, atingido no ano passado, e dos investimentos de R$ 2,3 bilhões que o Estado fará neste ano, com recursos próprios, a governadora foi colocada novamente na defensiva. Mesmo sem ter as provas que diz existirem à mão, o PSOL afirmou que Yeda e diversos de seus ex-colaboradores sabiam do uso de caixa dois na campanha de 2006 e pagamentos "por fora" da aquisição de um imóvel pela governadora. Ao contrário do ano passado, quando teve de demitir ou aceitar a demissão de diversos secretários citados em conversas com envolvidos na fraude do Detran reveladas por uma CPI, Yeda está mais tranquila porque as provas do que o PSOL diz não apareceram. Por isso, limitou-se a responder à acusação por uma nota na qual salientou que o Ministério Público Federal já desmentiu as declarações do PSOL e vem evitando o assunto, preferindo se ocupar da elaboração dos contratos de gestão que seus secretários terão de assinar a partir deste ano, se comprometendo com metas de desempenho. Mesmo assim, nessa entrevista ao Estado, ela lamenta que o novo episódio tenha surgido em meio àquilo que acredita ser uma campanha da oposição. Na semana passada o Ministério Público Estadual demoveu sindicalistas que tentavam acusar o governo estadual de "corrupto" em outdoors. Na terça-feira, 17, ficou entristecida pela morte de ex-representante de seu governo em Brasília, Marcelo Cavalcante, cujo corpo foi encontrado no Lago Paranoá. E agora enfrenta a nova turbulência desencadeada pelas acusações do PSOL. Estado - Como a senhora interpreta o momento que está vivendo? Yeda Crusius - É sequência da campanha dos outdoors, à qual o povo, que está ultrajado por essas acusações, reagiu indignado. Agora, com a aparição de um cadáver (de Marcelo Cavalcante), eles deflagraram oportunisticamente isso, chamando a mídia para uma coletiva em que fizeram acusações requentadas e sem prova aproveitando-se do resguardo parlamentar que tem. Essa forma de fazer política não respeita a tradição do Estado. Estado - Onde estão as manifestações de repúdio aos atos do PSOL e dos sindicatos pelo povo? Yeda - Em pesquisas interativas, em conversas, e-mails, cartas. O Rio Grande não gosta de atitudes covardes como essas. Estado - A senhora também está indignada? Yeda - Sem dúvida. Aproveitaram a morte do Marcelo Cavalcante para levantar ofensas e acusações sem prova. Isso é mórbido. Estado - As acusações são muito fortes e colocam em risca a carreira política deles se as provas não aparecerem. Como afirmar que nada é verdadeiro? Yeda - Eles não tem credibilidade para dizer nada. Não podiam convocar a imprensa para fazer dela massa de manobra para os propósitos golpistas que sabidamente têm. Estado - A senhora considerou a crise do Detran um tsunami. Como qualifica esse momento? Yeda - Trata-se de uma técnica usada para tentar desviar o foco do bom momento do governo. Colocamos as contas em dia e quando isso é feito parece que eles, por não terem o que dizer, usam armas que não são próprias da política gaúcha. Não é nenhum terremoto, é tentativa de confundir a opinião pública em relação a um momento muito bom que o Estado inteiro vive. Em cima da divulgação de uma coisa boa, eles se organizam para promover uma falsa denuncia. Estado - De onde vêm esses ataques? Yeda - Dos incomodados com o sucesso do governo. Estado - O PSOL faz campanha "Fora, Yeda", o PT já fala em pedir as provas ou para o impeachment ou para livrá-la de qualquer suspeita. Yeda - Eles (PT) devem se incluir nesse pedido. Eles também fizeram acusações (durante a CPI do Detran, no ano passado) e eles negam os bons resultados do governo. Eles também acusaram sem provas. Estado - A senhora vai reagir de alguma maneira, com processos, pedidos públicos de explicações? Yeda - O governo e o Ministério Público tem aparato jurídico para estudar essa questão e vão ver os instrumentos disponíveis para responsabilizar a todos os que estiverem cometendo qualquer tipo de delito. Para mim é delituosa essa exposição que o PSOL fez de si próprio. Estado - A senhora considera que é tudo mentira? Yeda - Sofri acusações infundadas. No final do ano passado (quando o Ministério Público Estadual considerou como legal a compra do imóvel questionada pela oposição) ficou provado que nunca aconteceram. São os mesmos atores. Não sou eu que vou analisar peças que eles montaram, os objetivos são os mesmos, continuados, golpistas, e eu não vou analisar o que não tem fundamento, que é um conjunto de falas que nem o Ministério Público Federal resolveu assumir. Estado - A senhora vê alguma conexão disso com a campanha de 2010? Yeda - "Fora Yeda" (campanha do PSOL) é campanha de 2010. Estado - Mas o PSOL não tem força para eleger um governador. Yeda - Pode ser o braço de outro interesse, como o PT sempre foi o braço partidário de movimentos outros. O PSOL pode estar reproduzindo o caminho. Estado - A senhora não identifica as conexões? Yeda - A autoridade da governadora só pode falar com fundamento. Não é de seu papel fazer conexões. Estado - A oposição considerou tímida a reação do Piratini diante das acusações. Entende que alguém injustiçado reagiria com indignação exigindo as provas. Yeda - Exigir provas? Eles dizem que têm, como vamos exigir. Eles devem exigir de si próprios. Minha mãe me ensinou a não responder a provocações de bêbados de porta de bar. O nível do fazer político do Rio Grande do Sul é altíssimo. Não merece esse tipo de provocação. Tenho mais tarefas para fazer do que responder a provocações de rua. Estado - Como a senhora vê a sucessão nacional? Yeda - É óbvio que existe diferenças básicas entre o projeto que está hoje na presidência e o nosso projeto tucano, que em oito anos fez reformas difíceis de serem feitas, mudanças que tiraram características de um Brasil que não se quer mais, corporativo, fisiológico, baseado em aparelhamento, em corrupção em alguns casos. Os dois projetos são diferentes e os dois candidatos que temos (José Serra e Aécio Neves) têm condições de defender o nosso projeto. Estado - A senhora defende prévias? Yeda - Se algum deles quiser e o outro aceitar, o partido não tem medo de prévias. Acabamos de ver a experiência democrata nos Estados Unidos, que qualificou a eleição. Hoje os dois candidatos estão no governo eleito. Estado - Seu partido tem chances contra a candidata de um presidente tão popular? Ele vai transferir votos? Yeda - O presidente já está tentando transferir e faz bem, ele quer que seu projeto continue, já escolheu a sua candidata, é isso mesmo, só se precisa discutir o método. Certamente se tem chance na hora certa, e a hora certa é a da campanha, aí é que ouvidos, olhos, energia e expectativa da população se colocam em análise para ver quem vai ocupar a cadeira. Estado - Qual dos dois a senhora prefere como candidato de seu partido? Serra ou Aécio? Yeda - Eu amo os dois. Cada um com suas características vão unir os tucanos em torno do projeto. Estado - As pressões que a senhora sofre aqui podem atrapalhar a candidatura nacional? Yeda - Os tucanos terão todas as respostas do mundo para isso. Porque os absurdos que estão acontecendo têm indignado a população e essa indignação tem sido manifestada pelo meu partido a partir do quadro nacional. Já passamos por5 isso na presidência por oito anos e a técnica é a mesma, o grupo opositor é o mesmo, não há surpresa nisso. As respostas virão acompanhadas de fatos e resultados que nosso governo está conseguindo.

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