Lessa rompe com Vilela e denuncia fraude eleitoral

Ex-governador entregou cargos do partido no governo e declarou oposição

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Por Agencia Estado
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O ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (PDT) anunciou nesta quarta-feira, em entrevista coletiva à imprensa, o rompimento político com o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB), que teve o seu apoio na disputa pelo governo do Estado, nas eleições de 2006. Como presidente do PDT em Alagoas, Lessa entregou os cargos que o partido tinha no governo e disse que agora é oposição. Com o rompimento, o engenheiro Jorge Briseno, que ocupava a pasta estadual de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, pediu exoneração. Além dele, pediram afastamento do governo mais dois militantes do PDT que ocupavam cargos no segundo escalão. A presidente do PSB em Alagoas, Kátia Born, lamentou a decisão de Lessa e reafirmou que continua no governo. Durante a coletiva, Lessa se disse "traído" por Vilela e prejudicado pela fraude eleitoral que teria beneficiado seu principal adversário, o atual senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB). "Estou convicto de que houve violação das urnas eletrônicas, nas eleições de 2006 em Alagoas", afirmou Lessa. O ex-governador revelou que recentemente se reuniu, em São Paulo, com os técnicos que elaboraram o laudo apontando falha nas urnas eletrônicas de Alagoas e declarou que saiu do encontro convicto de que houve violação no sistema eleitoral. "Os técnicos disseram que eu fui garfado", afirmou o ex-governador. Segundo ele, como prova os técnicos mostraram várias irregularidades no processo eleitoral e revelaram que 28,5% das urnas eletrônicas de Alagoas não emitiram a zerézimo (comprovante que indica que a urna começa a votação zerada, ou seja, sem registro de votos anteriores). "É um fato estranho e o material que apareceu queimado só reforça as suspeitas de que houve fraude nas eleições de Alagoas", opinou Lessa. Questionado se torce para que o resultado das eleições em Alagoas seja anulado e que se convoque novo pleito no Estado, o ex-governador disse não torcer por nada. "Não há torcida de minha parte. Apenas estou convicto da violação", enfatizou. Além disso, o ex-governador disse que nunca acreditou que perdeu a disputa do Senado para Collor. "Ele sequer era candidato só entrou porque, mesmo com 28 dias para fazer campanha, tinha a certeza do êxito", comentou. Para Lessa, a eleição de Alagoas está sob suspeita e tem que ser investigada. Ele revelou que está preparando um dossiê sobre o tema e deve entrar com uma denúncia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedindo anulação do pleito. "Só não sei se essa ação será assinada pelo diretório nacional ou pelo estadual", comentou. Indagado se o fato de ter rompido com Vilela e ter denunciado fraude eleitoral estaria se aproximando do ex-deputado federal João Lyra (PTB), Lessa declarou: "Nunca houve aproximação entre mim e João Lyra. Não estou dizendo aqui que fui roubado, mas que houve uma violação. Não sei quem roubou quem". No final de 2006, Lyra entrou com ação no Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE), pedindo a anulação da eleição para o governo do Estado, alegando violação de urnas. No início deste ano. Vilela foi ao Tribunal Superior Eleitoral pedir para que suspendesse as investigações, depois divulgou nota na imprensa dizendo que aceita a perícia nas urnas desde que feita pelo TSE. Nota oficial Em nota oficial distribuída à imprensa, Lessa repele os números divulgados pelo atual governo sobre a crise do Estado, denuncia a traição aos compromissos de campanha assumidos por Vilela e se coloca ao lados dos servidores públicos estaduais, que tiveram os reajustes salariais suspensos no início do ano. "Não é verdade que deixamos um débito de R$ 408 milhões para ele pagar", retrucou Lessa, acrescentando que o governo anterior deixou dinheiro em caixa e no máximo cerca de R$ 45 milhões de restos a pagar. "Ele (Vilela) fala em reduziu secretarias, que está enxugando a máquina do Estado, mas por que não paga a isonomia dos professores, como nós vínhamos pagando?", questionou o ex-governador. Os professores da rede de ensino público estadual estão em greve a quase um mês, reivindicando o pagamento de 80% da isonomia salarial com outras categorias. A isonomia foi concedida por Lessa em abril do ano passado e implantada em duas parcelas. A primeira, de 20%, foi paga em outubro, e a segunda, de 80%, deveria ser paga na folha de dezembro, mas foi cancelada por Vilela. O governador tucano alega que a isonomia dos professores geraria um acréscimo de R$ 12 milhões na folha do Estado, comprometendo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Na última segunda-feira, Vilela propôs pagar mais 40% da isonomia na folha de fevereiro e negociar o pagamento do restante (40%) em setembro. A proposta de Vilela foi rejeitada pelos trabalhadores da educação, que continuam em greve. Com isso, cerca de 320 mil alunos estão prejudicados. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinteal), Girlene Lázaro, disse que a categoria lutou muito pela isonomia e não iria abrir mão dessa conquista, por isso só voltará ao trabalho com os 80% garantidos.

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