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Leia a reportagem do 'Estado' que resultou na queda de Palocci

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Por Redação
Atualização:

O então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, elogiado até pela oposição por sua rigidez no comando da economia, entregou o posto em 27 de março de 2006. Saiu três semanas após o jornal O Estado de S. Paulo publicar um relato do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, sobre festas e partilha de dinheiro em uma mansão no Lago Sul de Brasília, com participação de Palocci e da chamada "República de Ribeirão". Nos dias seguintes, Nildo teve o sigilo bancário violado, operação que derrubou não só Palocci como o comando da Caixa. Leia abaixo a reportagem que denunciou o caso ARQUIVO: Veja aqui a reprodução da capa da edição de 14 de março de 2006  Caseiro desmente Palocci e revela partilha de dinheiro em mansão Empregado da casa diz que testemunhou entrega de dinheiro vivo a secretário particular de ministro da Fazenda Rosa Costa, de O Estado de S. Paulo BRASÍLIA Depois dos depoimentos do delegado Benedito Antônio Valencise e do motorista Francisco das Chagas Costa à CPI dos Bingos, uma nova testemunha desmente o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Conhecido como Nildo, Francenildo Santos Costa foi caseiro da mansão freqüentada no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, por amigos e assessores que acompanham o ministro desde que ele era prefeito de Ribeirão Preto. Nildo contou ao Estado que a casa - alugada por Vladimir Poleto, ex-assessor da prefeitura - era usada para partilha de dinheiro. Segundo o caseiro, Palocci era freqüentador assíduo do local, onde todos o chamavam de "chefe". Também aparecia por lá, com assiduidade até maior que Palocci, seu secretário particular , Ademirson Ariosvaldo da Silva. Na casa, segundo Nildo, eram realizadas reuniões para organizar a distribuição de dinheiro por Brasília - além de festas animadas por garotas de programa, agenciadas, muitas vezes, por Jeany Mary Corner. Encarregado de vigiar e limpar o local, Nildo tinha acesso livre a seus cômodos e disse ter visto malas e maços do dinheiro administrado por Poleto. E mais: numa ocasião, testemunhou quando Costa, o motorista, teria entregado um envelope com reais a Ademirson, no estacionamento do Ministério da Fazenda. O caseiro afirmou que Costa, sempre por orientação de Poleto, fazia entregas de dinheiro com freqüência. Durante um período de oito meses, encerrado no início de 2004, a casa serviu como base para a chamada república de Ribeirão. Segundo Nildo, o dinheiro era enviado de São Paulo mensalmente por Rogério Buratti, secretário de Governo de Ribeirão na primeira gestão de Palocci. Uma parte do dinheiro custeava as despesas de manutenção do imóvel e pagava os serviços dos empregados e as festas. O restante seria distribuído entre os membros da república de Ribeirão. "Eu via as notas. Vi pacotes de R$ 100 e de R$ 50 na mala do Vladimir", afirmou o caseiro. Poleto costumava carregar maços de reais numa mala e pagava tudo com dinheiro vivo, até mesmo o aluguel dos seis primeiros meses da casa, num total de R$ 60 mil. Nildo contou que as remessas só atrasaram uma vez, porque "a moça lá da empresa do doutor Rogério não fez o envio no dia certo". VIDROS ESCUROS Segundo o caseiro, Palocci esteve no imóvel "umas 10 ou 20 vezes". Chegou quase sempre sozinho, dirigindo um Peugeot prata de vidros escuros - o mesmo usado por Ralph Barquete, secretário de Finanças de Palocci na prefeitura de Ribeirão e posteriormente assessor da presidência da Caixa Econômica Federal. Barquete morreu em junho de 2004, de câncer. Sempre que Palocci ia à casa, de acordo com o relato, os integrantes do grupo de Ribeirão eram alertados por um telefonema de Ademirson. Segundo Nildo, eles diziam: "Olha, o chefe vem hoje." Palocci, contou o caseiro, pediu que as luzes do portão ficassem apagadas para que ninguém o visse. O testemunho de Nildo, somado ao depoimento do motorista à CPI, derruba a versão sustentada pelo ministro de que cessara sua convivência com a república de Ribeirão após a sua vinda para Brasília. A manutenção da proximidade com esses personagens, já como ministro, reforça a posição do Ministério Público de Ribeirão, para o qual Palocci estava comprometido com o esquema de corrupção na prefeitura. Há menos de um mês, o delegado Valencise, lotado na cidade, acusou Palocci, também na CPI, de ter comandado um esquema de fraude nos contratos de coleta de lixo. Nascido em Nazária (PI), o caseiro tem carteira assinada desde 1998 pelo dono do imóvel alugado por Buratti, o advogado Luiz Antonio Guerra. Disse que o motorista só contou parte do que viu. Quanto ao depoimento de Palocci, avaliou que foi ainda menos verdadeiro.

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