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Lavagem do Bonfim leva milhares às ruas de Salvador

Por Agencia Estado
Atualização:

Vestidos de branco como manda a tradição, milhares de baianos e turistas enfrentaram um calor de 35 graus na manhã de ontem para homenagear o Nosso Senhor do Bonfim, o santo mais popular da Bahia, na festa da Lavagem do Bonfim. O cortejo comandado por 300 "baianas" tipicamente vestidas saiu da Igreja da Conceição da Praia por volta das 10 horas, chegando à Colina Sagrada às 12h20 após oito quilômetros de marcha animada pelo afoxé Filhos de Gandhy, batucadas e cordões. Várias autoridades como o senador Antonio Carlos Magalhães, o governador Paulo Souto e o prefeito Antonio Imbassahy (todos do PFL) seguiram no meio das "baianas". A ala dos opositores, mais atrás, era comandada pelo Controlador-geral da União, Waldir Pires (PT). Com sempre, ACM era o mais festejado, dando trabalho aos seguranças que tentavam impedir o tumulto provocado pelos correligionários que tentavam cumprimentá-lo. Uma repórter da TVE, diante do alvoroço em torno de Magalhães, definiu, em plena transmissão ao vivo da emissora: "Ele significa, digamos assim, o Senhor do Bonfim". Depois dessa "canonização", ACM disse que iria pedir inspiração a Senhor do Bonfim para seu novo mandato no Senado. Iniciada na segunda metade do século 18, a devoção cresceu ao longo do tempo e, no Século 19, passou a ser sincretizada pelos adeptos do Candomblé que passaram a identificar o santo católico com o orixá Oxalá. Há mais de cem anos, a lavagem que era feita dentro da igreja preparando-a para a missa de domingo que encerra o novenário, passou a ser feita apenas no adro e nas escadarias. Com a igreja fechada, a lavagem assumiu caráter pagão na visão da Arquidiocese, mas não na do povo que participa com fé da homenagem. Isso pode ser comprovado quando as "baianas", mulheres iniciadas no Candomblé, lavam o adro da Igreja com água de cheiro que levam em jarros floridos: há uma disputa muito grande pela água de cheiro que elas aspergem no povo. Algumas pessoas fazem o sinal da cruz após receber a água, como se fossem gotas de água benta. Show Este ano, a festa no largo em frente à igreja foi mais bonita devido ao show do Coral das Crianças de Salvador que interpretou várias músicas das sacadas das cinco janelas de cercadura de pedra da Igreja do Bonfim, ajudando a criar um clima mais místico. Carroças, patinadores, bonecos mamulengos, pessoas com as fantasias mais exóticas possíveis (como ocorre na Corrida de São Silvestre) participam da festa. Tudo é feito para agradar o santo, até a "traição" da "baiana" Brasilina dos Santos. Devota do santo, não participava da lavagem porque o marido não queria. "Agora que ele já faleceu, eu participo" confessou. Depois da lavagem, a festa prossegue nas barraquinhas de comidas e bebidas típicas até a madrugada de amanhã. A partir desta sexta-feira, a igreja reabre para a programação católica que prossegue até domingo.

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