Coordenador da Força Tarefa responde críticas de adversário de Janot

Trocas de mensagens entre integrantes do Ministério Público Federal revelam divergências sobre atuação do órgão no caso

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Brasília - Passada menos de uma semana do início da disputa pelo cargo de procurador-geral da República, correntes adversárias já começaram a trocar mensagens em clima de "bate-boca" no sistema interno do Ministério Público Federal. O Estadão teve acesso a uma troca de mensagens entre procuradores por meio do sistema interno do MPF que mostra que a Operação Lava Jato será um dos principais pontos de debate do processo que escolherá o próximo procurador-geral.

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Em uma dessas mensagens, encaminhada na noite da última quinta-feira, 18, pelo coordenador da Força Tarefa e responsável pelas investigações da Lava Jato no Paraná, o procurador Deltan Dallagnol, responde críticas feitas pelo subprocurador Carlos Frederico Santos, um dos candidatos a procurador-geral. 

Frederico foi o primeiro a se inscrever no processo e é tido como o principal oposicionista à recondução do atual procurador-geral, Rodrigo Janot. O candidato vem fazendo críticas abertas ao comando do Ministério Público, especialmente sobre a condução das investigações de políticos, que são alvos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal.

Fred, como é conhecido o subprocurador, diz que Janot tem demorado para mostrar resultados nas investigações de parlamentares e autoridades. Ele se refere ao fato de não ter havido ainda nenhuma denúncia contra investigados na Suprema Corte. A expectativa é de que isso ocorra entre julho e agosto.

Na resposta às críticas na condução da Lava Jato, Dallagnol disse que Frederico, embora tenha boa intenção, tem feito críticas por "falta de conhecimento" profundo do caso, "o que é escusável em virtude de sua dimensão e complexidade, mas me leva a fazer apenas um rápido esclarecimento, por questão de justiça", escreveu o chefe da força-tarefa no texto distribuído internamente.

Dallagnol diz que ainda não foi feita nenhuma denúncia de políticos que são investigados perante o Supremo por "falta de prova suficiente, que está sendo coletada com prioridade absoluta", disse. O procurador disse ainda que no caso do STF há maior complexidade na obtenção de provas e que as investigações têm se baseado, até então, sobretudo nas delações. 

No dia seguinte, Frederico encaminhou uma mensagem em resposta a Dallagnol afirmando que fez críticas diretamente a Janot e incitando que o procurador-geral se manifeste. "Entendo sua boa intenção em oferecer explicações, mas, caso você não tenha percebido, minha crítica se refere à demora de resultados, dirigida ao procurador-geral da República" disse, acrescentando que, portanto, "cabe a ele responder, se assim entender, a referidas críticas, pois tenho certeza de que é pessoa de cabedal jurídico elevado para tanto, dispensando ajuda", completou.

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No decorrer da mensagem, Frederico diz que é para Dallagnol continuar como um "eleitor" e volta a dizer que Janot tem agido apenas quando é cobrado. Ele diz que espera uma resposta do procurador-geral, fazendo provocações: "Quem sabe, ela virá, neste atual momento, com denúncia no Supremo Tribunal Federal. Afinal, já houve momentos na Instituição em que somente quando cobrado é que o Procurador Geral da República agia", completou.

Início. Teve início no último dia 16 a campanha para formação de uma lista tríplice de candidatos ao cargo de procurador-geral da República. O mandato de Janot como procurador-geral da República termina no dia 17 de setembro. Além do procurador-geral, que busca a recondução ao cargo, e Frederico, estão inscritos os subprocuradores Raquel Dodge, que é vista como adversária moderada de Janot, e Mário Bonsaglia, tido como aliado.

A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) é a responsável por organizar uma votação - que será realizada no dia 5 de agosto - e resultará em uma lista com os três candidatos mais bem votados. Os nomes são então apresentados à presidente da República, que tem a livre prerrogativa de escolha, e encaminha sua indicação para uma sabatina e posterior aprovação pelo Senado Federal. 

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