Lava Jato ainda não teve acesso a servidor da Odebrecht na Suíça

Fontes próximas ao caso confirmaram ao Estado que as informações contidas no servidor são consideradas como 'fundamentais', mas ainda não foram repassadas ao Brasil

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Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:
Negociação. Delação de Marcelo pode determinar os rumos do grupo e da Lava Jato Foto: RODOLFO BURHER|REUTERS

GENEBRA - Os procuradores brasileiros ainda não tiveram acesso às informações do servidor usado pela Odebrecht para guardar suas informações na Suíça. Na quarta-feira, o portal Estadão revelou como um dos responsáveis pelo sistema de informática do "departamento da propina" da Odebrecht, Camilo Gornati, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro que a empreiteira mantinha seu servidor na Suíça "por questão de segurança". O interrogado foi alvo da 26ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Xepa. O servidor teria sido bloqueado pelas autoridades suíças.

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Fontes próximas ao caso confirmaram ao Estado que as informações contidas no servidor são consideradas como " fundamentais ". Mas ainda não foram repassadas ao Brasil. Os dois países estão criando uma força tarefa conjunta para lidar com as informações da operação que envolve suspeitas sobre a Petrobras e a Odebrecht. 

O Ministério Público da Suíça se recusou a dar detalhes sobre o servidor. " Não comentamos sobre possíveis documentos ou evidências relacionadas com possíveis processos criminais ", disse a Procuradoria. O Departamento de Polícia em Berna também se recusou a prestar qualquer tipo de esclarecimento.  No Brasil, a Operação Lava Jato espera conseguir acesso aos dados mantidos no servidor. 

"O que me falaram é que era mais seguro deixar na Suíça", afirmou Gornati, ouvido na ação penal contra o marqueteiro do PT João Santana, o presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e outros executivos do grupo. "Uma vez que perguntei, seria por segurança", afirmou ele ao ser questionado pela procuradora da República Laura Tessler, da força-tarefa da Lava Jato.

Em cerca de um ano de acesso aos documentos e transações da Odebrecht, os investigadores suíços obtiveram " fortes evidências " de pagamentos em pelo menos quatro aspectos diferentes. 

O primeiro se refere ao que Berna chama de uma " rede de empresas " criadas para movimentar pagamentos suspeitos. O uso de empresas de fachada estabelecidas fora do Brasil garantia, segundo as primeiras avaliações, um escudo para tentar dissimular os autores dos pagamentos e quem os recebia. Outra característica desse sistema foi o uso de diversos bancos suíços. 

A segunda constatação dos suíços, segundo pessoas próximas ao caso, é de que graças a esse sistema, recursos ilegais eram enviados a contas que beneficiariam políticos brasileiros e ex-diretores da Petrobrás. 

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Em terceiro lugar, as investigações apontaram que os recursos alimentavam campanhas eleitorais, possivelmente no Brasil. Os suíços, desde o início do processo, apontavam que não estavam interessados em saber se a contribuição a um partido era legal ou não. Na avaliação de Berna, esse seria um assunto que os brasileiros teriam de apurar. Mas suspeitaram da origem dos recusos e, por isso, diversas contas foram bloqueadas. 

O quarto aspecto encontrado pelos suíços foi a ligação da Odebrecht com contas e campanhas eleitorais fora do Brasil. As principais suspeitas recaem sobre o Panamá. A partir dos documentos encontrados, o Ministério Público suíço pediu a colaboração da Justiça do Panamá para apurar o destino de recursos que transitaram pelas contas da empresa. 

Bilhões. Na avaliação dos suíços, as propinas pagas por meio de contratos Petrobrás somaram " vários bilhões de dólares " e beneficiaram " políticos e diretores " da estatal brasileira. A afirmação faz parte do informe anual de atividades do MP suíço, citando os avanços das investigações no Brasil. 

Os montantes bilionário de propinas teriam sido pagos a partir do início dos anos 2000 e envolvendo contratos com a estatal. O documento é datado de 14 de abril de 2016.

Segundo a procuradoria suíça, mais de 40 processos criminais foram abertos contra empresas e pessoas envolvida no escândalo desde 2014, apenas em Berna. De acordo com o MP, alguns desses casos envolviam a suspeita de " lavagem de dinheiro agravada e, em certos casos, corrupção de agentes públicos estrangeiros ". 

Os suíços apontam que, diante das investigações no Brasil, " empresas aparentemente teriam pago, desde o início dos anos 2000,vários bilhões de dólares a quadros da Petrobras e a políticos para obter contratos com a Petrobras ". Os detalhes não foram revelados.