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Lacerda teve acesso a grampos, diz agente da Abin

Márcio Seltz garantiu a parlamentares ter levado cópia de interceptações para diretor da agência

Por Ana Paula Scinocca
Atualização:

Ao depor ontem na CPI dos Grampos, na Câmara, o agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Márcio Seltz afirmou que o diretor-geral afastado do órgão, Paulo Lacerda, teve acesso ao conteúdo de parte das escutas telefônicas realizadas na Operação Satiagraha. Segundo sua versão, ele até entregou a Lacerda cópia de grampos de alguns dos investigados pela Polícia Federal. O agente contou aos deputados que o encontro no qual houve o repasse desse material teria ocorrido em junho, com a presença do então diretor-adjunto José Milton Campana. "(Os áudios) falavam a respeito da imprensa. Entreguei cópia do arquivo a ele (Lacerda)", afirmou. Ontem, por meio da assessoria de imprensa da Abin, Lacerda negou ter recebido cópia de áudios e transcrições. Confirmou a reunião com Seltz, mas alegou que ela teria sido "para orientação". Segundo a Abin, o agente levou um relatório "de fontes abertas" debaixo do braço, que não chegou a ser visto por Lacerda. Seltz, que declarou ter participado da "pré-Satiagraha" com outros três agentes da Abin, afirmou que foi convocado por Campana para trabalhar com o então presidente do inquérito, delegado Protógenes Queiroz. "Àquela altura nem tinha noção do trabalho que seria feito. A gente parte da premissa de que missão dada é missão cumprida", disse. Apesar de a convocação não ter sido feita por escrito, Seltz avaliou que ela foi formal. "Recebi uma ordem direta do segundo na hierarquia. Na administração pública nem todas as ordens são por escrito." Ele revelou ainda ter recebido de Protógenes um pendrive com os áudios dos investigados nos quais eles "comentavam a respeito da imprensa" e de matérias publicadas sobre a Brasil Telecom. Para o presidente da CPI dos Grampos, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), o depoimento desmonta a versão de Lacerda. "Não tenho dúvidas de que o Paulo Lacerda foi cabalmente desmentido", afirmou. Itagiba e deputados da oposição, como Gustavo Fruet (PSDB-PR), defendem o indiciamento do diretor afastado por ter supostamente mentido. ''INTERPRETAÇÃO DE TEXTO'' Na CPI, Seltz explicou seu trabalho. "A instrução que recebi era de analisar as notícias (na imprensa), no sentido de identificar as que fossem favoráveis, neutras e contrárias, uma espécie de interpretação de texto. O delegado (Protógenes) queria que eu comparasse o que eles (investigados) diziam (nos áudios) com o que era publicado." E disse que a colaboração entre PF e Abin é usual. "Era quase cotidiana e hoje continua ocorrendo. São órgãos com áreas muito afins."

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