Justiça liberta líderes de invasão em Buritis

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Por Agencia Estado
Atualização:

Estão soltos desde as 22 horas desta segunda-feira os 16 trabalhadores sem terra que estavam presos na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, sob a acusação de comandarem a invasão à fazenda da família do presidente Fernando Henrique Cardoso, na cidade mineira de Buritis, ocorrida há dez dias. O juiz Marcus Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal de Brasília, concedeu nesta segunda liberdade provisória, sem pagamento de fiança. Os 16 saíram do prédio da Superintendência em fila, com uma bandeira do MST à frente. Um deles, Clédson Mendes, disse que não sofreram qualquer tipo de agressão ou pressão nesses dez dias em que ficaram presos na Polícia Federal. "A maior dificuldade para nós aconteceu no dia mesmo, lá em Buritis, quando fomos algemados e jogados na lama. Não havia razão para aquele tratamento: nós éramos apenas dezesseis trabalhadores e havia uns mil homens da polícia e do Exército", explicou. Mendes disse ainda que ele e seus companheiros não vêem razão para terem sido presos: "Não achamos que é motivo de cadeia lutar pela reforma agrária. Entramos na fazenda para chamar a atenção do governo para a nossa pauta." Ele também negou que os invasores do MST tenham consumido bebidas na fazenda da família do presidente: "Não há provas de que fomos nós. Não é de nosso feitio mexer nas coisas dos outros." Para conceder a liminar, garantindo a liberdade provisória, o juiz afirmou que não viu justificativas para mantê-los presos. "Tratam-se de trabalhadores, primários, com ocupação definida" disse Bastos. O juiz deu a liminar apesar de reconhecer que não era competente para analisar o caso. "Os fatos tidos como ilícitos ocorreram no Estado de Minas Gerais", afirmou. "Os fatos não alcançaram bem, serviço ou interesse da União federal, suas autarquias ou empresas públicas, sendo certo que a eventual afetação do patrimônio pessoal do excelentíssimo senhor presidente da República não se confunde com aqueles bens, serviços ou interesses", esclareceu. No entanto, ele disse que o direito de liberdade dos sem-terra não poderia ser indefinidamente obstado por uma questão processual. "A custódia cautelar já dura nove dias", observou Bastos. Agora, os 16 líderes - que só saíram da Superintendência quase duas horas depois da chegada do oficial de Justiça com o alvará de soltura e tiveram todo o processo de liberação acompanhado por advogados do MST, inclusive o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) - vão responder em liberdade ao processo pelos crimes de que são acusados: cárcere privado, invasão de propriedade e descumprimento de ordem judicial. Parte dos 16 vai juntar-se à marcha dos sem-terra que saiu de Buritis na sexta-feira e nesta segunda-feira estava em Cabeceira da Mata, em Goiás, a 150 quilômetros de Brasília, e deve chegar à capital no dia 8. Além da comitiva de Buritis, mais um ônibus e um caminhão com sem-terra saíram do Pontal do Paranapanema, outro ônibus de Minas e mais dois de Goiás. Segundo os líderes, a marcha continua tendo razão de ser, pois ainda há quatro presos em São Paulo, desde o episódio em que José Rainha foi baleado de raspão. E a coordenação do MST diz que a data da chegada a Brasília coincidirá com o julgamento de envolvidos na chacina de Eldorado de Carajás, há seis anos.

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