PUBLICIDADE

Juiz decide despejar sem-terra em Teodoro Sampaio

Por Agencia Estado
Atualização:

O juiz Atis Araújo de Oliveira já decidiu que serão despejados os 300 sem-terra que invadiram, na manhã desta segunda-feira, a Fazenda Santa Maria, em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema. O despejo deve acontecer nesta quarta-feira. A propriedade, do espólio do ex-governador de São Paulo, Abreu Sodré, é administrada pelo seu genro Jovelino Carvalho Mineiro, sócio dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, na fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG). A invasão da Fazenda Santa Maria ocorreu em represália à prisão de 16 sem-terra durante a ação de despejo da Fazenda Córrego da Ponte. A ação de manutenção na posse foi impetrada pelos advogados de Mineiro no mesmo dia da invasão. O promotor Marcelo Cresti deu parecer favorável ao proprietário nesta terça-feira à tarde. Os sem-terra manifestaram intenção de acatar a decisão da Justiça, mas disseram que vão acampar em um local próximo. O juiz também vai manifestar-se sobre um pedido de prisão dos líderes da invasão, José Rainha e Sérgio Pantaleão, formulado pelos advogados de Mineiro, em razão do esbulho possessório. A mesma fazenda fora invadida anteriormente e tivera sua desocupação decretada pela justiça. O promotor, no entanto, não concordou com esses pedidos. Segundo ele, as prisões não seriam justificadas. Os sem-terra passaram o dia, nesta terça, esperando a decisão da Justiça sobre o pedido de despejo. O tempo de espera foi preenchido com os acordes de violão e jogo de futebol. Os sem-terra arrancaram a soja de uma pequena quadra de terra para improvisar a "pelada" com uma bola de meia. O sol forte tornava os barracos de lona preta muito quentes. Muitos acampados preferiram armar suas redes sob a disputada sombra de uma única árvore. A chegada de uma viatura da Polícia Civil agitou o ambiente. O investigador Waldemir Antonio de Souza surgiu na área acompanhado de um ex-policial. "Ele é segurança do fazendeiro", acusou o líder Sérgio Pantaleão. A viatura, com defeito, ainda precisou ser empurrada para sair do acampamento. A chegada de José Rainha interrompeu o almoço, à base de arroz, macarrão, feijão e batatas. Ele ficou uma hora com o grupo. Havia informação de que um pedido de prisão contra o líder do MST estava sobre a mesa do juiz Atis Araújo de Oliveira para despacho. Os sem-terra permitiram que os arrendatários Helmut Henschel e Marcos Mantovani entrassem na fazenda com as máquinas para colher a soja madura. "Se não fizermos a colheita, vamos perder os grãos", disse Henschel. Ele cultivou 700 hectares, mas a produtividade foi baixa por causa da seca. "Esperava 50 sacos por hectare, mas está dando só 15", reclamou. Um grupo saiu do acampamento em um caminhão para cortar árvores, à beira da estrada. Os troncos seriam usados na construção de novos barracos. Os líderes do acampamento esperavam a chegada de mais 400 pessoas para engrossar a invasão. Até o fim da tarde, apenas algumas famílias tinham chegado. Alguns acampados improvisaram uma manifestação contra a soja supostamente transgênica plantada na fazenda. Vários feixes foram arrancados e colocados na carroceria de um caminhão, ao lado de uma foto de Che Guevara. A Polícia Militar mantinha discreta vigilância, à distância, sobre o acampamento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.